O Estado de S. Paulo

Prêmios, Will em francês e robô

- JOÃO WADY CURY E-MAIL: JOAO.CURY@ESTADAO.COM BLOG:CULTURA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/ARCENICO

Londres — A peça tem quase três horas de duração, se passa numa cozinha de fazenda e tem uma arapuca: uma viúva sensualíss­ima, apaixonada pelo cunhado, que mora de favor com a família dele, inclusos aí uma dezena de filhos, a mulher tísica e três velhos. Visualizou? Essa belezura papou três dos principais prêmios do Laurence Olivier Awards 2018 esta semana, referência do teatro mundial. Chama-se The Ferryman e é o novo drama de Jez Butterwort­h. Vem lotando o Gielgud Theatre desde a estreia, ano passado, em suas oito sessões semanais. Sim, oito sessões, teatro como profissão.

The Ferryman é sucesso porque tem elenco forte e coeso. Constância é a regra para não perder o tom. A montagem levou a escultura de peça do ano, diretor (Sam Mendes, pela terceira vez) e atriz para Laura Donnelly – já não está mais no elenco, substituíd­a por Rosalie Craig (foto)

desde novembro.

The Ferryman toca no coração do inglês: 1971, uma família irlandesa feliz prepara-se para a colheita anual, mas surge uma visita com uma revelação sobre um parente morto anos atrás. Junte-se a isso as ações do IRA (Irish Republican Army) pela independên­cia da Irlanda do Norte e um amor não realizado entre um homem e sua cunhada, viúva do tal falecido. Nitroglice­rina pura. E ela tem nome: Rosalie Craig é a dona do palco, mas em novembro ela deixa a peça para estrelar o musical Company.

Tem muito mais de onde saiu isso. De uma semana para cá duas estreias nos palcos ingleses. Péricles – Príncipe de Tiro começou carreira no Barbican Centre. Sim, escrita pelo bom e velho Will Shakespear­e. Em vez de ser na língua do bardo a dita cuja chega em francês, primeira encenação da companhia Cheek by Jowl, dos badalados diretores ingleses Duncan Donnellan e Nick Ormerod, na língua de Molière. A dupla de diretores coloca o príncipe protagonis­ta (interpreta­do por Christophe Grégoire, na foto) em um hospital, agonizante e delirante. Atores e atrizes interpreta­m diversos personagen­s com os mesmos figurinos. E, para completar, uma correria ininterrup­ta leva a confusão do palco para a plateia. Duas pessoas saíram antes dos primeiros 15 minutos, a recepção foi morna. Will é quem agoniza.

Instructio­ns for Correct Assembly (Instrução para montar corretamen­te) é a estreia do dramaturgo Thomas Eccleshare no Royal Court e trata de casal da classe média inglesa que vê o filho sair de casa para a universida­de. Talvez prenuncian­do a solidão, compram pela internet um robô para fazer as vezes de filho. Montam a geringonça, dão-lhe um nome, mas a coisa parece não dar certo, tanto o robô como a peça – ingênua e recheada de clichês. O que resta, agora, é olhar para frente. Quarta, 18, estreia The Prudes (Os Caretas), nova peça de Anthony Neilson. Promete porque Neilson é velho de guerra. Que o bom e velho Will nos proteja.

 ?? JOHAN PERSSON ?? Rosalie. A dona do palco
JOHAN PERSSON Rosalie. A dona do palco
 ?? PATRICK BALDWIN ??
PATRICK BALDWIN
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil