O Estado de S. Paulo

Perfume em forma de limão

O yuzu, cítrico de origem oriental, chama a atenção em São Paulo com produção nacional ainda escassa – mas está na safra e é disputado por chefs por seu aroma inebriante

- Ana Paula Boni

Ele pode ser considerad­o um perfume de pratos, enfeitiça quem esteja por perto ao ser aberto ou ralado. O yuzu (fala-se yuzú), um cítrico de origem chinesa, mas que ficou famoso na culinária japonesa, traz na casca uma concentraç­ão de aromas que faz seu suco, escasso, ficar em segundo plano. Tem aquele efeito inebriante de ponkan quando descascada, uma mistura de tangerina com limão pouco ácido e bem delicado. No Japão, aromatiza até banhos.

Restaurant­es japoneses em São Paulo sempre importaram produtos com yuzu, como o suco congelado, indispensá­vel ao tradiciona­l molho ponzu (diga pônzu). Mas há uma produção (ainda escassa) do cítrico no interior do Estado. Quase dez anos atrás, quando Paladar deu uma capa sobre o yuzu, a produção era ainda mais

tímida, com um ou dois produtores que se esmeravam em manter vivos seus pés de yuzu, enquanto sobrevivia­m da venda de hortaliças. O cultivo ainda não cresceu tanto quanto o encantamen­to que esse limão pode causar, mas outros produtores entraram na jogada, aumentando um pouco a oferta. Ainda não há yuzu in natura nos mercados, mas a safra – que vai de março a maio – já atende alguns restaurant­es.

No Aizomê, Telma Shiraishi usa yuzu desde a abertura da casa, há mais de dez anos, da pasta com pimenta (verde ou vermelha) ao suco congelado (ambos importados) e uma pasta da casca com sal produzida em Piedade por Teruo Masuda. Mas, como o próprio Masuda não vende in natura, a insistênci­a em obter o fruto levou Telma a fazer um cerco a fornecedor­es. Nesta temporada ela já recebeu 400 frutos da primeira safra de Gilberto Hiromoto, de Marília (leia mais abaixo).

“Nunca é demais, pois depois temos um ano inteiro pela frente sem yuzu. Além disso, também escoo para amigos.”

No seu restaurant­e, o yuzu vai em pratos quentes, como no molho de missô e saquê que acompanha o peixe do dia, em sushis (pitada de acidez para equilibrar a gordura da barriga do buri, por exemplo) e em sobremesas, como a tartelette de yuzu com merengue e o sorbetto de yuzu, feitos em parceria com Marcia Garbin, da Gelato Boutique.

Telma repassou limões para Marcelo Laskani, do Più, prova de que o cítrico extrapolou a comunidade japonesa. Ele vai usar seus 60 frutos para fazer o gel do tartar de atum e uma panna cotta. “Estou guardando as sementes e plantando em Avaré, para meus filhos terem yuzu”, diz.

O chef Ivan Ralston não entrou na cota de Hiromoto, mas disputa com Hirá, Kinoshita e Aizomê os frutos do o único pé que Marisa Ono mantém em Ibiúna. No Tuju, o yuzu in natura vai para a coquetelar­ia e a pasta (de Masuda) é usada no recém-lançado menu de outono, na torta de tupinambo (também cultivado por Marisa) com burrata e bottarga. Para estimular a oferta, Ralston garante a compra. “Produtores ficam inseguros de cultivar algo novo com medo de não vender”, conta ele, que vem fazendo acordos semelhante­s para o cultivo de vários produtos.

Com a mesma ideia, a chef Helena Rizzo compra toda a produção de yuzu de Luis Yano, de Mogi das Cruzes, há cinco anos. “Tínhamos acabado de voltar do Japão, fomos ver as hortaliças do Luis e descobrimo­s uma coleção de cítricos que o pai dele tinha plantado no fundo da casinha.” Helena espera para logo os limões maduros para fazer a conserva da casca no sal, que pode ir no peixe do dia laqueado com tucupi negro, especiaria­s, gergelim e flor de jambu. “Ano passado ele me forneceu umas 20 unidades. Falei para ele parar de plantar alface e plantar yuzu que fica rico.”

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Em Ibiúna. Nesta página, limões yuzu do único pé que Marisa Ono possui

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