‘O Brasil está estável’
Para head da agência Fitch para a América Latina, o pior já passou:
Peter Shaw se disse otimista com o País, mas ressaltou a importância de que o próximo presidente faça as reformas necessárias
Peter Shaw, head Latam da agência de classificação de risco Fitch Ratings, veio ao Summit Imobiliário 2018 com boas notícias para os empresários do setor. Após relembrar a montanha-russa de ratings pela qual que o Brasil passou recentemente, Shaw disse estar otimista com o futuro próximo. Para ele, é possível que o Brasil retome seu grau de investimento.
“Desde o começo da década passada, o Brasil experimentou de tudo. Do virtuosismo de políticas fiscais e econômicas até um freio de estagnação e questionamento quanto as políticas de economia e maior intervenção governamental. Mas, desde 2016, medidas para impedir ainda mais a deterioração vem sendo tomadas. Finalmente voltamos a ter uma perspectiva estável”, disse Shaw.
Em 23 de fevereiro, a Fitch rebaixou a nota de crédito do Brasil para de “BB” para “BB-”, deixando o País ainda mais longe de retomar o selo da agência de ‘bom pagador’ de sua dívida. Hoje, a situação está melhor, embora ainda não seja ideal. Apesar da inflação controlada e da vantagem da estabilização do preço dos commodities compartilhada junto de outras economias emergentes, o Brasil é um dos países de crescimento mais lento na América Latina.
“Quando olhamos o crédito de diversos mercados emergentes, vemos que a América Latina sofreu menos que outros lugares”, explicou Shaw. Ele destacou que a reforma da Previdência é, sim, importante para o retorno da nota, mas não é a única medida necessária: “O que pode ajudar a situação também é a consolidação fiscal e política estável”, disse.
Ele acrescentou que, entre os pontos prioritários em uma potencial revisão do rating brasileiro, estará a capacidade de o governo federal cortar custos e equilibrar as receitas. “Além disso, as finanças dos Estados e dos municípios continuam sendo importantes, pois eles podem demandar mais recursos da União”, explicou.
Shaw alertou que eventuais retrocessos na política de ajuste fiscal, aumento da dívida pública e perda significativa das reservas poderão levar o Brasil para o lado oposto: um novo rebaixamento por parte da agência.
Olho na urna. Um dos pontos mais comentados por Shaw foi o que a Fitch espera das eleições brasileiras. Em um cenário que deve ter mais de uma dezena de candidatos ao Planalto, o head da agência para América Latina classificou o cenário eleitoral do País em 2018 como “incerto” e disse que o resultado do pleito é um risco para economia e seu grau de rating.
“O quadro eleitoral é fragmentado com ou sem Lula”, afirmou, citando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso no último fim de semana. Shaw ressaltou que a Fitch não faz previsões baseadas em projeções eleitorais, mas apenas após a definição de quem será o próximo presidente. A capacidade de implementar as medidas também será avaliada. “A importância de qualquer modelo econômico não é garantir o que vai acontecer hoje, mas o que vai acontecer no ano que vem. Não é importante apenas as políticas fiscais do vencedor (das eleições) mas a possibilidade de implementá-las”, disse.
Shaw demonstrou ainda preocupação com as políticas protecionistas e a possível guerra fiscal entre China e Estados Unidos. E, apesar do Brasil estar dando sinais de uma maior abertura econômica, ainda é uma economia mais fechada do que de países desenvolvidos, mesmo após as decisões polêmicas do presidente Donald Trump.
O que pesa é o déficit do governo. O problema das contas públicas não é cíclico, mas estrutural” Peter Shaw HEAD LATAM DA FITCH