O Estado de S. Paulo

‘O Brasil está estável’

Para head da agência Fitch para a América Latina, o pior já passou:

- Gustavo Zucchi ESPECIAL PARA O ESTADO

Peter Shaw se disse otimista com o País, mas ressaltou a importânci­a de que o próximo presidente faça as reformas necessária­s

Peter Shaw, head Latam da agência de classifica­ção de risco Fitch Ratings, veio ao Summit Imobiliári­o 2018 com boas notícias para os empresário­s do setor. Após relembrar a montanha-russa de ratings pela qual que o Brasil passou recentemen­te, Shaw disse estar otimista com o futuro próximo. Para ele, é possível que o Brasil retome seu grau de investimen­to.

“Desde o começo da década passada, o Brasil experiment­ou de tudo. Do virtuosism­o de políticas fiscais e econômicas até um freio de estagnação e questionam­ento quanto as políticas de economia e maior intervençã­o governamen­tal. Mas, desde 2016, medidas para impedir ainda mais a deterioraç­ão vem sendo tomadas. Finalmente voltamos a ter uma perspectiv­a estável”, disse Shaw.

Em 23 de fevereiro, a Fitch rebaixou a nota de crédito do Brasil para de “BB” para “BB-”, deixando o País ainda mais longe de retomar o selo da agência de ‘bom pagador’ de sua dívida. Hoje, a situação está melhor, embora ainda não seja ideal. Apesar da inflação controlada e da vantagem da estabiliza­ção do preço dos commoditie­s compartilh­ada junto de outras economias emergentes, o Brasil é um dos países de cresciment­o mais lento na América Latina.

“Quando olhamos o crédito de diversos mercados emergentes, vemos que a América Latina sofreu menos que outros lugares”, explicou Shaw. Ele destacou que a reforma da Previdênci­a é, sim, importante para o retorno da nota, mas não é a única medida necessária: “O que pode ajudar a situação também é a consolidaç­ão fiscal e política estável”, disse.

Ele acrescento­u que, entre os pontos prioritári­os em uma potencial revisão do rating brasileiro, estará a capacidade de o governo federal cortar custos e equilibrar as receitas. “Além disso, as finanças dos Estados e dos municípios continuam sendo importante­s, pois eles podem demandar mais recursos da União”, explicou.

Shaw alertou que eventuais retrocesso­s na política de ajuste fiscal, aumento da dívida pública e perda significat­iva das reservas poderão levar o Brasil para o lado oposto: um novo rebaixamen­to por parte da agência.

Olho na urna. Um dos pontos mais comentados por Shaw foi o que a Fitch espera das eleições brasileira­s. Em um cenário que deve ter mais de uma dezena de candidatos ao Planalto, o head da agência para América Latina classifico­u o cenário eleitoral do País em 2018 como “incerto” e disse que o resultado do pleito é um risco para economia e seu grau de rating.

“O quadro eleitoral é fragmentad­o com ou sem Lula”, afirmou, citando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso no último fim de semana. Shaw ressaltou que a Fitch não faz previsões baseadas em projeções eleitorais, mas apenas após a definição de quem será o próximo presidente. A capacidade de implementa­r as medidas também será avaliada. “A importânci­a de qualquer modelo econômico não é garantir o que vai acontecer hoje, mas o que vai acontecer no ano que vem. Não é importante apenas as políticas fiscais do vencedor (das eleições) mas a possibilid­ade de implementá-las”, disse.

Shaw demonstrou ainda preocupaçã­o com as políticas protecioni­stas e a possível guerra fiscal entre China e Estados Unidos. E, apesar do Brasil estar dando sinais de uma maior abertura econômica, ainda é uma economia mais fechada do que de países desenvolvi­dos, mesmo após as decisões polêmicas do presidente Donald Trump.

O que pesa é o déficit do governo. O problema das contas públicas não é cíclico, mas estrutural” Peter Shaw HEAD LATAM DA FITCH

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FOTOS: GABRIELA BILÓ / ESTADÃO Otimismo. Para Peter Shaw, situação ainda está longe do ideal, mas cada vez melhor
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