Gigantes mundiais recriam consumo e trabalho
Espaços físicos precisam se adaptar a novos mercados e relações digitais, analisa Sheila Botting, líder da Deloitte Real Estate
O que o mercado imobiliário pode aprender com Uber, Amazon, Alibaba, Skype e Netflix? Essa é a pergunta que Sheila Botting veio ao Brasil ajudar a responder no Summit Imobiliário 2018. Líder de Real Estate da Deloitte Canadá, Botting mostrou o as transformações do mercado de Real Estate em direção as expectativas desta e das próximas gerações.
Nas palavras dela durante o evento em São Paulo, isso significa entender que “mercado e clientes estão aumentando sua sofisticação e diversidade e exigem alta performance e diversidade organizacional”.
“A disruptura digital está mudando tudo que nós fazemos, compramos, onde compramos e o que fazemos. Está mudando no escritório, no varejo, no setor industrial. E está forçando as organizações de Real Estate a mudarem também”, disse Botting, falando pela primeira vez no Brasil. “Nossos negócios tradicionais muitas vezes não estão abertos a mudanças. Se pensarmos nas grandes coisas que estão ocorrendo: Alibaba, Amazon, eles nem possuem grandes propriedades imobiliárias. Não tem lojas. Uber não tem carros, Skype, iChat, não tem equipamento. Netflix, Google não tem ativos fixos. Isso está ocorrendo no mundo e no Real State também”, explicou.
O primeiro exemplo que ela trouxe para justificar a necessidade de mudanças foi justamente como o setor de Real Estate deve pensar os novos ambientes de trabalho. “Talvez a gente não tenha o mesmo trabalho que temos hoje daqui a 10 anos. 87% das pessoas entrevistadas pela Deloitte falaram que a disruptura vai afetar de alguma forma sua indústria”.
As ideias foram traduzidas no que a Bloomberg chamou de "o prédio mais inteligente do mundo". O “The Edge” em Amsterdã, tem 2,5 mil empregados da Deloitte, todos sem mesa fixa. O prédio, recheado de sensores, é conectado diretamente ao celular dos funcionários, reconhece quando eles chegam, sabe as preferências do café, ajusta a temperatura dos ambientes para ficar ao agrado de todos. Sustentabilidade, bemestar e tecnologia aliados alterando fundamentalmente o ambiente de trabalho.
“Os escritórios antigos tinham 40% de espaços vagos. Era um lugar difícil de se viver. Os cubículos são passado. Existe uma forma melhor de ter um lugar de trabalho. É até mesmo uma forma de recrutar e reter talentos. De repente todos os ‘millennials’ (nascidos entre 1980 e 1990) querem trabalhar conosco”, explicou Sheila.
Mais mudanças. Comércio e indústria também terão seus espaços físicos alterados radicalmente com a disruptura tecnológica. Segundo dados trazidos por Botting em sua palestra, o foco será prover produtos relevantes em qualquer lugar.
“Os shoppings do futuro serão conectados porque a forma de comprar no futuro será feita em diversos meios. Eu mesmo pesquiso online antes de fazer compras em uma loja física”, contou.
A indústria também terá que se readequar. “Centros de distribuição e lojas estão se mesclando. Antes tínhamos duas opções: os produtos iam para lojas físicas e centros de distribuição. Hoje grandes lojas estão virando centros de distribuição. Em alguns lugares do Reino Unido, você já consegue receber sua encomenda em uma hora”, detalha Sheila.
A presidente da Deloitte Real Estate acredita que o setor tem que estar preparado: apenas 38% das lideranças do setor acreditam estar preparadas para lidar com a disruptura no mercado imobiliário.
“Fundamental será transformar a estrutura hierárquica de nossas empresas em algo mais colaborativo, onde será possível criar oportunidades de aprendizado para os futuros líderes”, completa.
A cada 18 meses surgem tecnologias. Um negócio muda a cada três anos. E nosso prédio tem 40 anos” Sheila Botting LÍDER DA DELOITTE REAL ESTATE