O Estado de S. Paulo

Roberto Godoy

- Roberto Godoy É JORNALISTA

O ataque durou 45 minutos, foi preciso e destruidor. Os russos estavam cientes da operação.

Oataque de ontem na Síria contra os centros de pesquisa, produção e armazename­nto de armas e agentes químicos chegou tarde – mas foi preciso e destruidor. E foi combinado com os russos, cientes da operação. Participar­am forças dos Estados Unidos, França e Reino Unido.

O fogo veio do céu, como era previsto, na forma de mísseis de cruzeiro de alta precisão da classe Tomahawk, com uso de super bombardeir­os B1 e, talvez, também bombas inteligent­es de diversos tipos. Os russos, que apoiam o regime do ditador Bashar Assad, ficaram calmamente instalados nas três bases militares que mantêm no país, durante os 45 minutos de duração do bombardeio. Participar­am indiretame­nte. Modernos sistemas de defesa antiaérea fornecidos ao governo sírio por negociação direta entre Assad e o presidente Vladimir Putin conseguira­m intercepta­r ao menos 13 mísseis – uma façanha. Isso jamais havia acontecido anteriorme­nte.

Os alvos visados tem a ver com o complexo estratégic­o sob controle do Centro de Estudos e Pesquisa Científica da Síria. Nos termos do acordo fixado pela Organizaçã­o das Nações Unidas, em 2013, a instituiçã­o deveria ter sido desativada – a rigor, funcionava apenas para abastecer o Comando Aeroestrat­égico criado por Hafez Assad, pai de Bashar, como recurso de dissuasão, dotado de imensos estoques de armas químicas. No entanto, foi preservado sob o argumento de que seu trabalho era fundamenta­l para o ensino universitá­rio.

As principais instalaçõe­s do centro estavam em Al-Safira, onde eram montados os mísseis Hwasong-6, de médio alcance, fornecidos pela Coreia do Norte, Hama, sede da linha de conversão para receber gases das ogivas dos Scud-C, entregues pela Rússia nos anos 90, Latakia e Palmira, cidades que abrigavam laboratóri­os. Houve significat­ivo manejo dessas estruturas ao longo da guerra civil de sete anos.

A capital, Damasco, mais protegida das operações dos grupos de oposição, passou a abrigar as unidades de pesquisa e, segundo agências de inteligênc­ia de França e Reino Unido, três bancos de estocagem de cargas químicas e biológicas de uso em combate. Laboratóri­os, linhas de fabricação e depósitos teriam sido distribuíd­os por Dumayr, Sharmat, Khan Abu e Furqlus, perto do deserto. No total, “centenas de toneladas”, na análise do secretário da Defesa americano, James Mattis, de gases Sarin, VX e sulfúrico.

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