O Estado de S. Paulo

Roraima quer fechar fronteira com a Venezuela

Migração. Estado relata ao Supremo Tribunal Federal falta de recursos pelo grande número de imigrantes e critica governo federal; cerca de 50 mil pessoas já atravessar­am o limite entre os países desde 2015, com reflexos em saúde, educação e criminalid­ade

- / AMANDA PUPO, RAFAEL MORAES MOURA, CARLA ARAÚJO e FELIPE RESK

O governo de Roraima ingressou com ação no STF pelo fechamento temporário da fronteira com a Venezuela. A governador­a Suely Campos (PP) alega que o Estado está sobrecarre­gado. Temer disse que o fechamento da fronteira é “incogitáve­l”.

O governo de Roraima pediu ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) que determine o fechamento temporário da fronteira com a Venezuela. Na ação civil, que será analisada pela ministra Rosa Weber, o Estado critica a atuação do governo federal na crise migratória e cobra medidas de controle. No Peru, o presidente Michel Temer já se posicionou contra a proposta.

A governador­a, Suely Campos (PP), alega que o cuidado com as fronteiras é de responsabi­lidade da União e o Estado se encontra sobrecarre­gado pelo grande fluxo migratório – cerca de 50 mil pessoas já atravessar­am o limite entre os países desde 2015. O número ultrapassa 10% da população do Estado, que, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), é de 500 mil habitantes. A ação pede também recursos adicionais para o orçamento, uma vez que, após a chegada de venezuelan­os à capital, Boa Vista passou a sofrer com a criminalid­ade e com o aumento nos custos de saúde e educação.

Suely afirma que, apesar da edição de uma medida provisória a respeito, “a União não efetivou absolutame­nte nada de transferên­cia de recursos” para reposição dos gastos “já suportados e futuros”. O aumento da criminalid­ade e o surgimento de doenças também é associado pelo Estado à falta de fiscalizaç­ão. Segundo o documento enviado ao Supremo, o descontrol­e nas fronteiras tem “oportuniza­do a prática de inúmeros crimes internacio­nais, de tráfico de drogas e armas, até com a participaç­ão de membros de facções criminosas”.

Com base em dados da Polícia Civil do Estado, o número de homicídios saltou de 24 para 44, quando comparado o período de fevereiro e março de 2017 com o mesmo período de 2018. “Antes, havia a apreensão de armamento uma vez a cada semana ou 15 dias. Agora é todo dia”, disse ao Estado o coordenado­r da Defesa Civil de Roraima, Doriedson Ribeiro. Segundo relatório da Defesa Civil de Roraima, em menos de quatro meses do ano em curso, 82 crimes foram praticados por venezuelan­os.

Ainda segundo a ação civil, nas unidades de saúde estaduais o número de atendiment­os aumentou aproximada­mente 3.000% no ano de 2017, “com destaque para os partos de mulheres venezuelan­as realizados na única maternidad­e pública da unidade federativa”.

Procurada, a Casa Civil da Presidênci­a da República informou que o governo já repassou “R$ 128 milhões para atendiment­o de saúde no Estado de Roraima, além de R$ 78 milhões para a prefeitura de Boa Vista e R$ 4 milhões para Pacaraima”.

Caso o STF não permita o fechamento da fronteira, o Estado pede que, alternativ­amente, seja efetivado pela União um controle do ingresso de venezuelan­os.

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FÁBIO GONÇALVES/FOTOARENA/4/4/2018 Boa Vista. Se STF não autorizar bloqueio, governo estadual sugere restrição de entrada

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