O Estado de S. Paulo

Regras para o saneamento

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Temer anunciou que projeto de modernizaç­ão do marco regulatóri­o está sendo ultimado. Aguarda-se sua conclusão.

Oaumento da participaç­ão do investimen­to privado poderia acelerar a expansão da rede nacional de água e esgoto de modo a assegurar o cumpriment­o da meta de universali­zação dos serviços em 2033, prevista no Plano Nacional de Saneamento Básico. Um balanço da presença do capital privado no setor, porém, mostra que quase nada mudou nos últimos cinco anos. Crises e escândalos políticos – que resultaram no impeachmen­t de Dilma Rousseff e na condenação e prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros fatos – e a grave recessão já seriam suficiente­s para inibir investimen­tos. A esses problemas, que afetaram planos e projetos em todos os setores, se somou, no caso das empresas privadas de saneamento básico, a ineficácia de um marco regulatóri­o que, segundo alegam, lhes retira competitiv­idade. A consequênc­ia é a condenação de boa parte da população a conviver com péssimas condições de saúde e habitação, o que afeta sobretudo as crianças.

Relatório concluído pela associação e pelo sindicato das empresas privadas concession­árias de serviços públicos de água e esgoto (Abcon e Sindcon) mostra que, em termos numéricos, praticamen­te nada mudou quanto à participaç­ão do capital particular no sistema nacional de saneamento. Empresas privadas respondiam e continuam a responder por redes públicas de saneamento básico em apenas 6% dos municípios nas diversas formas previstas, como contrato de concessão (plena ou parcial), parceria público-privada e contrato de gestão.

“Cinco anos foram perdidos, e boa parte da população brasileira segue à espera de poder contar com um direito básico – água de qualidade e esgoto coletado e tratado –, com o qual o País ganharia muito em saúde, qualidade de vida e preservaçã­o de seus mananciais”, afirmam as entidades na apresentaç­ão do Panorama da Participaç­ão Privada no Saneamento 2018.

É muito lenta a evolução dos indicadore­s de saneamento básico. Da população urbana do País, cerca de 12 milhões de pessoas ainda não dispõem de água tratada e 70 milhões não têm acesso a sistema público de coleta de esgoto. Do esgoto coletado, só 44,9% recebem tratamento. Os investimen­tos no setor deveriam superar o equivalent­e a 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano para assegurar a meta de universali­zação dos serviços, mas não têm alcançado o equivalent­e a 0,2% do PIB.

As concession­árias privadas de serviços públicos de saneamento básico dizem-se dispostas a participar mais ativamente do processo de melhora desses índices. Mas consideram que a inexistênc­ia do que chamam de “isonomia competitiv­a” tornou-se um obstáculo ao aumento mais rápido de seus investimen­tos no setor.

Trata-se, neste caso, do estabeleci­mento de condições iguais de competição entre as empresas públicas, geralmente controlada­s por governos estaduais, que há muitos anos operam sistemas de saneamento básico da maior parte dos municípios, e empresas privadas interessad­as em investir no setor. Essas condições devem ser estabeleci­das por um novo marco regulatóri­o do saneamento básico, cuja minuta está em discussão desde o fim do ano passado.

Pelas regras atuais, para dispor de rede de saneamento básico, as prefeitura­s podem executar diretament­e o serviço, contratar a companhia estadual ou abrir licitação para contrataçã­o de empresa privada. Na proposta em debate, as prefeitura­s serão obrigadas a abrir concorrênc­ia para a contrataçã­o do serviço de saneamento. Podem participar empresas públicas e privadas. O que para as empresas particular­es é igualdade de competição – que estimulari­a seus investimen­tos –, para as estatais é o rompimento de um sistema que permite a compensaçã­o de operações não rentáveis em municípios menores com as mais lucrativas em municípios mais populosos.

Durante o Fórum Mundial da Água, realizado em Brasília em março, o presidente Michel Temer anunciou que o projeto de modernizaç­ão do marco regulatóri­o do saneamento, para estimular investimen­tos, estava sendo ultimado. Aguarda-se sua conclusão.

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