O Estado de S. Paulo

SUSPEITAS RECAEM SOBRE MILICIANOS

- RIO /R.J. E R.P.

Grupos paramilita­res em expansão no Estado são o principal foco da investigaç­ão do assassinat­o da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. A polícia investiga se dois homens executados esta semana em áreas dominadas por milícias estariam envolvidos diretament­e com o crime. Também apura se teriam sido mortos como queima de arquivo.

Oficialmen­te, a Secretaria de Segurança diz que as investigaç­ões continuam em sigilo. Muitas informaçõe­s, porém, vazaram. Elas apontam para o envolvimen­to de milicianos no crime. A polícia vai comparar fragmentos de impressões digitais encontrada­s nas cápsulas achadas no local das mortes com as de dois homens assassinad­os esta semana.

Um deles era o líder comunitári­o Carlos Alexandre Pereira Maria, de 37 anos. Foi morto no domingo passado na zona oeste, um reduto de milicianos. Conhecido como Alexandre Cabeça, era colaborado­r no gabinete do vereador Marcello Siciliano (PHS). O parlamenta­r foi ouvido na semana passada como testemunha do caso.

O outro homem era Anderson Claudio da Silva. Era um subtenente reformado da PM, morto na terça passada, na mesma região. Também era suspeito de manter relações estreitas com as milícias.

Desde o fim da CPI das Milícias, o número de grupos paramilita­res no Estado mais do que dobrou, segundo o Ministério Público. As comunidade­s carentes sob o comando de milícias passaram de 41 para 88. Eles exploram serviços como gás, internet, transporte, entre outros, e promovem extorsões.

“Há um cresciment­o econômico e territoria­l evidente das milícias”, sustenta o especialis­ta em segurança pública Vinícius George, policial que participou da CPI. “Nos últimos anos, com o recrudesci­mento da violência no Rio, a ação das milícias recrudesce­u também. E agora, com a saída dos caras que foram presos lá atrás, isso tende a piorar porque vai ter mais briga e disputa.”

O sociólogo Inácio Cano, do Laboratóri­o de Violência da Universida­de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), concorda. “Temos sinais de que o tráfico internacio­nal de drogas está se enfraquece­ndo por sua pouca capacidade de produzir lucros. Por outro lado, delegados e promotores dizem que a extensão das milícias tem aumentado, sobretudo fora de suas áreas tradiciona­is.” Até agora, pelo menos oito vereadores foram ouvidos como testemunha­s do caso.

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