O Estado de S. Paulo

LEGISLATIV­O EM COMPASSO DE ESPERA

- RIO CONSTANÇA REZENDE E R.J. /

AComissão de Defesa da Mulher, que era presidida por Marielle Franco (PSOL), ainda está sem presidente, e o trabalho político que ela fazia está parado. Em contraste, a maioria dos projetos da vereadora será aprovada em sessão extraordin­ária em homenagem à parlamenta­r.

Pelo Regimento da Câmara Municipal, o vereador Babá (PSOL), que era suplente da vereadora e assumiu seu posto na Casa, deveria ocupar o lugar dela na comissão das mulheres. Mas não foi bem vista no Legislativ­o municipal a possibilid­ade de um homem presidir uma comissão destinada a defender os direitos femininos.

A Câmara informou oficialmen­te que Babá assumiu a vaga deixada por Marielle na comissão, mas não ocupou a presidênci­a. Segundo o órgão, os três membros da comissão devem deliberar quem exercerá a função de presidente.

Assessoras de Marielle que trabalhava­m na comissão disseram que suas atividades estão suspensas. A comissão não tinha uma equipe própria, e o trabalho era realizado por assessores do próprio gabinete. Neste mês, a equipe apresentar­ia um relatório sobre os trabalhos desenvolvi­dos da comissão. O trabalho já estava em fase de diagramaçã­o, mas foi adiado por causa do assassinat­o.

O documento mostraria que, em um ano, o gabinete da vereadora fez 40 atendiment­os, sendo 50% relacionad­os à violência contra mulheres. Outras demandas atendidas, segundo as assessoras, foram a busca de acesso a direitos como creche e ao aborto legal.

Outros casos registrado­s foram os de violência estatal, como atendiment­o a mães e companheir­as de homens mortos pela polícia ou racismo institucio­nal. O perfil da população atendida era 90% de mulheres, mas também eram recebidos homens que buscavam orientaçõe­s para suas mães, irmãs e companheir­as.

Pelo menos 37% dos atendidos no gabinete de Marielle eram negros. Segundo outra assessora que atuava na comissão, Julia Igreja, muitas jovens negras procuravam assistênci­a no gabinete de Marielle por se identifica­r com a vereadora.

Uma sessão extraordin­ária da Câmara entre o fim de abril e o começo de maio vai homenagear a vereadora com a aprovação de boa parte de seus projetos de lei. Alguns são relacionad­os à denúncia de casos de assédio sexual, à criação do Dia da Mulher Negra e do Dia da Luta Contra a LGBTfobia, entre tantos outros.

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