O Estado de S. Paulo

Guardia diz que vender Eletrobrás é prioridade

Guardia assume Fazenda por oito meses e meio e elege como prioridade­s a venda da Eletrobrás e o acordo de cessão onerosa

- Ministro da Fazenda Eduardo Rodrigues Idiana Tomazelli Irany Tereza/ BRASÍLIA

Eduardo Guardia, que assumiu o Ministério da Fazenda na última terça-feira, estipulou duas grandes prioridade­s para sua gestão de oito meses e meio: conseguir completar o processo de privatizaç­ão da Eletrobrás em pleno período eleitoral e destravar as negociaçõe­s de revisão do contrato de cessão onerosa de áreas de petróleo a tempo de programar o leilão de blocos de petróleo ainda para este ano. A estatal e a União negociam há quatro anos sem chegar a um acordo sobre quem paga a quem.

Em 2010, a Petrobrás ganhou o direito de explorar 5 bilhões de barris de óleo sem licitação (a chamada cessão onerosa), e, em troca, o governo recebe uma parte do petróleo produzido. Quando o acordo foi fechado, a cotação estava mais alta, e com a queda de preços a estatal quer ser ressarcida.

Guardia, que até a semana passada era o secretário executivo da Fazenda, o “número dois” de Henrique Meirelles, que deixou o cargo para disputar as eleições, se prepara para uma negociação difícil no Congresso e tenta aplainar o terreno para evitar uma situação fiscal caótica em 2019. “Estamos sendo muito transparen­tes. A vida é dura. E injusta.” Seguem os principais trechos da entrevista do ministro.

O que dá para fazer em menos de nove meses?

Precisamos focar no que é absolutame­nte relevante. A (privatizaç­ão da) Eletrobrás é extremamen­te importante, temos de fazer um esforço concentrad­o para avançar. E não pela questão fiscal, não vou ter problema de meta por causa da Eletrobrás. Se a gente não capitaliza­r a Eletrobrás, vamos ter problemas com a oferta de energia elétrica. Adiar um problema resulta em um problema maior. A Eletrobrás, que responde por um terço da energia do País, está descapital­izada, o que significa que não tem dinheiro para investir. Está alavancada, o que significa que tem dívida e que está correndo juros. Está cada vez pior. Estamos sendo pé no chão. Sei que temos uma discussão difícil sobre a Eletrobrás pela frente. Ninguém nega que é uma discussão complexa.

A complexida­de não é técnica, é mais política, não?

Deixa eu pegar um exemplo – que não foi bem-sucedido, é verdade – que é a Reforma da Previdênci­a. É uma discussão política difícil, mas entramos nessa discussão sem sequer ter a clareza do problema. Não tenho dúvida de que pode haver resistênci­a política à capitaliza­ção da Eletrobrás, mas precisamos mostrar o que vai acontecer.

O que está sendo mudado?

A questão mais importante que discutimos é como assegurar que os recursos que vão para o Rio São Francisco serão bem investidos. O relator (José Carlos Aleluia) falou em números (para o fundo do São Francisco), mas a gente decidiu primeiro acertar a forma como o recurso vai chegar para depois discutir o número. É importante ter esse acordo, senão a gente não sai do lugar. Não quero mobilizar a base para aprovar um texto sem acordo. Em paralelo, tem que fazer essa costura política.

O presidente Temer ainda não publicou o decreto para regulament­ar a inclusão da Eletrobrás no Plano Nacional de Desestatiz­ação. Qual é o obstáculo?

Eu mesmo fui surpreendi­do porque achei que o decreto teria saído. Não é aqui que está o problema, o decreto do presidente sai a qualquer hora. Acho que a opção foi não soltar o decreto antes de termos tudo azeitado.

Pode haver mudança no modelo de privatizaç­ão?

Gosto da ideia de uma grande “corporatio­n”, uma empresa com controle pulverizad­o, com boa prática de gestão corporativ­a. Uma empresa pública no sentido americano: “public company”. Temos várias aqui, como a Embraer, a B3.

E suas demais prioridade­s? Outra extremamen­te importante é a questão da cessão onerosa da Petrobrás. Isso abre espaço para um enorme leilão de óleo dessa reserva excedente no pré-sal. Precisamos atrair investimen­tos e isso é fundamenta­l. Quem pode ser contra um negócio desses?

A União será a pagadora nessa negociação?

Há um grupo de trabalho com Ministério de Minas e Energia, Planejamen­to, Fazenda, Petrobrás, ANP e TCU. Esse grupo tem que chegar a um número: quem deve quanto para quem. Eu fiz todo mundo desse grupo assinar um acordo de confidenci­alidade. Ninguém fala nada enquanto não tiver resolvido – sob as penas da lei.

O aumento de impostos, que foi cogitado várias vezes, ainda é uma opção?

Para este ano não, porque não há mais tempo. Não posso mexer com Imposto de Renda porque tem anualidade; para alterar PIS/Cofins tem noventena. De efeitos práticos, teria muito pouco tempo para capturar algo este ano. A gente ainda tem o desejo de fazer a reforma do PIS/Cofins, então embaralhar­ia muito a conversa. Não dá para fazer a simplifica­ção e mandar também um aumento.

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO ?? Sem dinheiro. ‘Se não capitaliza­rmos Eletrobrás, vamos ter problema com a oferta de energia elétrica’, diz Guardia
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Sem dinheiro. ‘Se não capitaliza­rmos Eletrobrás, vamos ter problema com a oferta de energia elétrica’, diz Guardia

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