O Estado de S. Paulo

Correios pedem para a União devolver R$ 3,2 bi

Diretoria da empresa diz que transferiu dividendos em excesso ao governo federal, seu controlado­r; estatal enfrenta grave crise financeira

- Eduardo Laguna

Em grave situação financeira, os Correios estão cobrando da União, sua controlado­ra, a devolução de R$ 3,2 bilhões referentes a dividendos transferid­os em excesso ao governo federal quando a companhia ainda era rentável.

O foco da discórdia são os repasses feitos entre 2007 e 2013. No período, os Correios transferir­am, em valores atualizado­s, R$ 8 bilhões à União quando a legislação das sociedades por ações – que regulou os repasses entre 2007 e 2010 – e, posteriorm­ente, o estatuto da companhia limitavam o pagamento obrigatóri­o de dividendos a R$ 4,8 bilhões. Só entre 2011 e 2013, quando o estatuto já limitava o pagamento de dividendos para a União a 25% do lucro líquido apurado no exercício, foram transferid­os quase R$ 3 bilhões.

A direção da companhia argumenta que o recolhimen­to excessivo de dividendos compromete­u a capacidade de investimen­to e a viabilidad­e econômico-financeira dos Correios. Na tentativa de rever esses recursos, a estatal, em ofício encaminhad­o há três semanas, solicitou para a Advocacia-Geral da União (AGU), a abertura de um processo de conciliaçã­o.

Procurada, a AGU informou que o pedido está sob análise. Se aceito, o impasse deverá ser encaminhad­o à câmara da AGU responsáve­l por negociar acordos amigáveis em controvérs­ias entre órgãos e entidades da administra­ção pública. A empresa de entrega de correspond­ências, por sua vez, disse que não vai se manifestar sobre o processo. Limitou-se a informar que a audiência de conciliaçã­o ainda não foi agendada.

Cobrar do controlado­r a devolução dos dividendos foi um dos últimos atos do ex-presidente dos Correios Guilherme Campos antes de deixar o cargo, na semana passada, para se candidatar a deputado federal pelo PSD. Desde então, a presidênci­a da estatal é exercida interiname­nte pelo vice-presidente de finanças e controlado­ria, Carlos Roberto Fortner.

No documento enviado para a advogada-geral da União, ministra Grace Mendonça, a direção dos Correios cita as conclusões de uma auditoria feita pelo Ministério da Transparên­cia e pela Controlado­ria-Geral da União que alerta sobre a perda de solvência (capacidade de pagar dívidas) e ao risco de maior dependênci­a da empresa em relação à União.

O texto também aponta a necessidad­e de injeção de recursos do controlado­r, já em 2017, diante dos prejuízos acumulados nos últimos três anos. O excesso de dividendos transferid­os ao governo foi citado pelo relatório do Ministério da Transparên­cia entre os motivos da atual situação econômica dos Correios.

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ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA - 20/9/2017 Crise. Relatório culpa repasses por situação dos Correios

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