Nobel é abalado por escândalos
Denúncias de abuso e corrupção ameaçam prêmio literário
Secretária Permanente da Academia Sueca, a escritora Sara Danius, foi forçada a deixar o cargo na quinta, 12, após reunião que discutiu a crise na instituição que concede o Nobel de Literatura desde 1901. A organização enfrenta escândalos de abuso sexual e vazamento de informações. Danius não revelou se sua saída foi resultado de votação entre os membros da Academia. “É confidencial. É a vontade da Academia e a aceito”, disse ao sair da reunião.
“Já afetou o prêmio severamente e isso é um enorme problema”, afirmou Danius emocionada na noite de quinta. O escândalo alcançou os níveis mais altos do governo. “É dever da academia recuperar a fé e o respeito”, garantiu o primeiro-ministro Stefan Lofven à imprensa.
O encontro com Danius foi o primeiro a ser realizado desde a renúncia de outros três acadêmicos – Klas Östergren, Kjell Espmark e Peter Englund, na sexta, 6. O trio deixou a Academia após a instituição votar pela permanência da poeta sueca Katarina Frostenson. O marido dela, o dramaturgo francês Jean-Claude Arnault, é acusado de abuso sexual e vazamento de informações.
Segundo a imprensa sueca, uma investigação recomendou denúncia contra o clube literário comandado por Arnault, por irregularidades no financiamento recebido pela Academia. O relatório dos investigadores alertava que Frostenson era coproprietária da empresa que controlava o clube do marido, o que violaria as regras de imparcialidade na concessão de auxílios da Academia, e que Arnault tinha acesso e vazado informações confidenciais, como os vencedores do Nobel.
Apesar do resultado das investigações, a proposta de expulsar Frostenson foi negada pela maioria. Arnault foi acusado de abusar sexualmente de 18 mulheres nas dependências da Academia Sueca. As denúncias foram divulgadas pelo jornal Dagens Nyheter em novembro, em meio ao movimento #MeToo. A academia cortou a relação privilegiada de Arnault e a Promotoria da Suécia abriu inquérito para apurar as denúncias.
Para complicar as coisas, não há como os 18 membros da academia renunciarem. Membros são eleitos para mandatos vitalícios e se escolhem parar de participar das atividades, a cadeira é deixada vaga até sua morte.
Mesmo antes do escândalo, dois assentos eram de membros inativos. Com as cinco partidas recentes, a Academia fica com 11 membros ativos – um a menos do que os 12 necessários para eleger novos membros na eventualidade de uma vaga.