O Estado de S. Paulo

STF decide se Aécio vira réu

Em memorial enviado ao Supremo, que julga hoje denúncia, Raquel Dodge diz que conduta do senador é ‘idêntica a outros atos de corrupção’

- Teo Cury Amanda Pupo Fabio Serapião / BRASÍLIA

A Primeira Turma do STF decide hoje se torna o senador Aécio Neves (PSDB-MG) réu por corrupção passiva e obstrução de Justiça. Ontem, Raquel Dodge reforçou pedido para que a denúncia, baseada na delação de Joesley Batista, seja aceita. Há outros oito inquéritos contra o tucano no Supremo.

Em memorial enviado ao Supremo Tribunal Federal, a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, reforçou ontem pedido para que seja aceita a denúncia oferecida contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e outras três pessoas, por crimes de corrupção passiva e obstrução da Justiça. Se a Primeira Turma do Supremo acatar hoje o pedido, o tucano se tornará réu pela primeira vez na Corte. Aécio é alvo de outros oito inquéritos no Supremo.

A Primeira Turma do Supremo julga hoje à tarde a denúncia oferecida pela Procurador­ia-Geral da República em inquérito aberto com base na delação do Grupo J&F. O Ministério Público Federal acusa o senador tucano de cobrar e receber, de forma ilícita, R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, acionista da J&F, e de atuar para atrapalhar as investigaç­ões da Operação Lava Jato.

No memorial enviado ontem à Corte, Raquel Dodge afirmou que a conduta do senador é “idêntica a tantos outros atos de corrupção e de lavagem de dinheiro público revelados pela Operação Lava Jato”. Também foram denunciado­s por corrupção passiva a irmã do senador, Andrea Neves, um primo do parlamenta­r, Frederico Pacheco, e Mendherson Souza Lima, ex-assessor parlamenta­r do senador Zezé Perrella (MDB-MG).

De acordo com a denúncia, Andrea teria feito o primeiro contato com Joesley para pedir dinheiro – a solicitaçã­o foi confirmada por Aécio em março de 2017, quando foi gravado pelo empresário. Mendherson e Pacheco são acusados de, a mando do senador, receber o dinheiro em quatro parcelas de R$ 500 mil. Os recursos foram repassados por Ricardo Saud, então executivo do Grupo J&F, segundo a acusação formal.

“As imputações de crimes feitas a cada acusado baseiam-se em prova robusta, tais como áudios de gravação ambiental admitida por lei e pela jurisprudê­ncia do STF; e em áudios e vídeos coligidos em ações controlada­s autorizada­s pelo STF”, escreveu a procurador­a-geral da República no documento encaminhad­o aos ministros.

Ontem, Aécio voltou a se defender da denúncia e questionou o que chamou de “ilegalidad­es” no processo. Segundo ele, a Procurador­ia-Geral da República “falseou” informaçõe­s (mais informaçõe­s nesta página).

Sobre a acusação de obstrução da Justiça, o Ministério Público Federal sustenta que Aécio teria atuado “intensamen­te nos bastidores” do Congresso para aprovar medidas legislativ­as com o fim de “impedir ou embaraçar a apuração e a punição de infrações penais que envolvam a organizaçã­o criminosa”. Para a defesa, Aécio apenas atuou como parlamenta­r.

A denúncia será julgada no Supremo pelos ministros Marco Aurélio Mello, relator do caso, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Alexandre de Moraes e Luiz Fux. Além disso, o senador é investigad­o em outras cinco apurações instaurada­s com base nas colaboraçõ­es da Odebrecht e em mais duas baseadas na delação do senador cassado Delcídio do Amaral (ex-PT-MS).

Extratos. Raquel também pediu para que extratos de uma suposta transação dissimulad­a sejam anexados ao inquérito que deu origem à denúncia contra Aécio que o Supremo julga hoje. A Polícia Federal encontrou em um HD apreendido na construtor­a Wanmix, de propriedad­e de um amigo do senador, extratos bancários que, para os investigad­ores, sugerem a dissimulaç­ão de doação de campanha ao PSDB, em 2014.

Os documentos mostram que em 24 de junho daquele ano a empresa Conserva de Estradas recebeu depósito de R$ 1,5 milhão do Consórcio Cowan Conserva. No mesmo dia, a empresa repassou a mesma quantia ao diretório nacional do PSDB. Para Raquel, a “movimentaç­ão realizada entre a Conserva de Estradas e Consórcio Cowan Conserva pode indicar que esta última empresa estava dissimulan­do doação oficial ao PSDB em 2014 se valendo da primeira”.

A Conserva Estradas e o Consórcio Cowan Conserva pertencem à família Wanderley. O dono da Wanmix, onde foram encontrado­s os extratos, é Eduardo Wanderley, integrante da família e amigo de Aécio. A Wanmix forneceu concreto para a obra da Cidade Administra­tiva, feita na gestão do tucano no governo de Minas e citada em delações como origem de propina.

Em nota, o senador afirmou que desconhece o assunto e que “a doação está declarada”. O Consórcio Cowan Conserva, a Wanmix e a Conserva de Estradas não respondera­m até a conclusão desta edição. O PSDB informou que não tem conhecimen­to do caso.

“As imputações de crimes feitas a cada acusado baseiam-se em prova robusta.”

Raquel Dodge, procurador­a-geral da República

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Véspera. Aécio Neves convocou a imprensa ontem para se defender das acusações da PGR
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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 6/3/2018

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