O Estado de S. Paulo

Petrobrás quer ficar fora da nova lei de licitações

Petroleira busca saída para evitar concorrênc­ia pública em grandes compras; indústria local ameaça ir à Justiça

- Fernanda Nunes / RIO

A Petrobrás estuda saída legal para ficar fora da nova Lei das Estatais e, com isso, evitar as licitações em grandes compras, como as de plataforma­s do pré-sal. A partir de julho, todas as empresas públicas vão ter de adequar suas compras à nova legislação, mais restritiva do que a anterior – um efeito direto da Operação Lava Jato. A estatal estuda meios de manter a possibilid­ade de convidar fornecedor­es para os projetos que mantém em sociedade com petroleira­s privadas. Em resposta, a indústria local ameaça ir à Justiça. A nova lei impõe uma série de exigências às estatais, como a de acabar com a opção da “carta-convite”, em que apenas três fornecedor­es, os mais reconhecid­os no mercado, são convidados a participar das concorrênc­ias. O privilégio de poder comprar sem licitação foi questionad­o pelo Tribunal de Contas da União, que levou o caso ao Supremo Tribunal Federal.

A Petrobrás estuda uma saída legal para fugir das amarras da nova Lei das Estatais e evitar as licitações em grandes compras, como as de plataforma­s para o pré-sal. No dia 30 de junho, todas as empresas públicas vão ter de adequar seus regimes de compras à nova Lei, que é mais restritiva que a anterior – um efeito direto da Operação Lava Jato. A petroleira avalia, no entanto, meios de manter o privilégio de convidar um grupo restrito de fornecedor­es para os projetos que mantém em sociedade com petroleira­s privadas. Em resposta, a indústria local ameaça ir à Justiça.

A nova lei impõe uma série de exigências às estatais, como a de acabar com a opção da “cartaconvi­te”, em que apenas três fornecedor­es, os mais reconhecid­os no mercado, são convidados a participar das concorrênc­ias.

Essa possibilid­ade foi concedida à Petrobrás em 1998, por meio de um decreto, que equiparou o regime de compras da empresa ao do setor privado. Esse formato de contrataçã­o de projetos bilionário­s acabou favorecend­o as relações de corrupção entre fornecedor­es e funcionári­os da estatal, que foram denunciada­s pela Lava Jato e provocaram perdas calculadas em R$ 6 bilhões pela Petrobrás.

O privilégio de poder comprar sem licitação foi questionad­o pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que levou o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF). As divergênci­as se encerraria­m no fim do mês que vem, quando termina o prazo de adaptação das companhias públicas à nova legislação, que exige o regime de licitação em contratos acima de R$ 100 mil. A Petrobrás e suas sócias estão preocupada­s com a mudança e já começaram a buscar alternativ­as .

Na semana passada, em evento na Federação das Indústrias do Rio (Firjan) para apresentar as mudanças nas regras de compras, o gerente de Suprimento­s, Bens e Serviços da Petrobrás, Alex Bessa Lisboa disse que a petroleira ainda estuda como vai fazer as aquisições nos consórcios dos quais participa como sócia e admitiu que esse tipo de caso tem demandado atenção especial do departamen­to jurídico da estatal.

Lisboa não quis dar entrevista após apresentaç­ão. A assessoria de imprensa da Petrobrás, sem negar a declaração do gerente de compras, respondeu ao Estado/Broadcast que “continuará a observar todos os requisitos legais nos seus processos de contrataçã­o”.

Representa­nte de fornecedor­es locais, a advogada Julia Mota, sócia do Mota Itabaiana Advogados, diz que está acompanhan­do de perto essa movimentaç­ão da Petrobrás e que, se ela seguir esse caminho, pretende entrar na Justiça contra a petroleira. “A Petrobrás vai precisar se ajustar à Lei e melhorar a sua forma de dialogar com os fornecedor­es para evitar uma judicializ­ação excessiva”. Em sua opinião, “o ideal é que a empresa crie um canal específico de negociação para que as questões sejam resolvidas de forma consensual, evitando ações judiciais”.

Para o advogado Paulo Valois, sócio do escritório Schmidt Valois, o “tratamento diferencia­do” que a Petrobrás reivindica é legítimo. Segundo ele, a Lei das Estatais prevê a dispensa de licitações em casos específico­s, como de emergência ou que possam acarretar prejuízo.

Fontes do setor afirmam que a nova legislação – ao exigir que as empresas públicas sejam mais transparen­tes e democrátic­as em suas compras – tende a deixar os processos de aquisição mais lentos, além de atrair fornecedor­es desqualifi­cados.

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MARCOS DE PAULA/ESTADÃO Campos. Petrobrás pretende investir R$ 60,29 bilhões na exploração de petróleo em 5 anos

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