O Estado de S. Paulo

Distribuid­oras da Eletrobrás gastam, em 2 anos, R$ 3,7 bi

Privatizaç­ões. Seis subsidiári­as da estatal gastam R$ 202 milhões por mês de recursos que poderiam ser usados para reduzir a conta de luz dos consumidor­es; para dar fim aos repasses, Aneel defende a venda imediata das empresas para a iniciativa privada

- Anne Warth/ BRASÍLIA

Em quase dois anos, seis distribuid­oras da Eletrobrás que estão na mira do governo para serem privatizad­as gastaram R$ 3,750 bilhões em recursos dos consumidor­es. Por mês, são R$ 202 milhões, dinheiro que poderia ser usado para abater subsídios e programas sociais do governo e assim reduzir a conta de luz dos consumidor­es. Os leilões dessas subsidiári­as podem ser suspensos pelo TCU.

As seis distribuid­oras da Eletrobrás que o governo quer privatizar logo, mas que podem ter os leilões suspensos pelo Tribunal de Contas da União (TCU), gastaram, em quase dois anos, R$ 3,750 bilhões em recursos dos consumidor­es, de acordo com informaçõe­s da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Para dar fim a essa situação, a agência reguladora do setor defende que as empresas sejam licitadas o mais rapidament­e possível. Cada mês que as empresas permanecem sem concession­ário consomem mais R$ 202 milhões. Sem a necessidad­e de bancar essas empresas, o dinheiro poderia ser utilizado para abater a conta de subsídios e programas sociais do governo e, consequent­emente, reduzir a conta de luz de todos os consumidor­es.

O rombo está em um ofício assinado pelo diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, enviado ao Congresso. O TCU sinalizou que o edital só será liberado em um mês por ter dúvidas sobre detalhes do edital, como o preço das distribuid­oras, que serão vendidas por valor simbólico de R$ 50 mil cada.

No ofício, a Aneel esclarece que a licitação das seis distribuid­oras é uma “agenda distinta” da privatizaç­ão da Eletrobrás, e que a decisão de licitá-las “já foi tomada”, tanto pela empresa quanto pelo Congresso e está em fase final.

A Aneel traz uma série de indicadore­s que mostram que a situação atual dessas empresas, que prestam serviço em caráter precário e temporário, é insustentá­vel no médio e longo prazo. Por isso, o órgão regulador defende a realização do leilão das distribuid­oras.

“A licitação é a alternativ­a que melhor atende ao interesse público”, diz o ofício. A agência ressalta que o vencedor da disputa será aquele que oferecer a menor tarifa, e o concession­ário terá fortes incentivos a ser eficiente, melhorar a qualidade do serviço e a reduzir perdas e custos operaciona­is.

Em julho de 2016, a Eletrobrás decidiu, em assembleia de acionistas, não renovar as concessões de suas distribuid­oras, que atuam nos Estados do Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Alagoas e Piauí. Desde então, a continuida­de da prestação direta do serviço é responsabi­lidade da União, que, sem alternativ­as, designou a Eletrobrás para a função a partir de agosto de 2016.

Esse cenário gerou uma situação anacrônica para os envolvidos. Por não ser mais a dona da concessão, a Eletrobrás não aplica recursos próprios nas distribuid­oras. O governo também não tem recursos em caixa para fazer frente às despesas. As tarifas, pagas pelos consumidor­es locais, não são suficiente­s para fechar as contas, pois as distribuid­oras gastam mais do que arrecadam.

Fundo. A diferença entre aquilo que é arrecadado pelas tarifas cobradas dos consumidor­es e aquilo que é efetivamen­te gasto pelas companhias é paga com recursos do fundo setorial Reserva Global de Reversão (RGR). O dinheiro desse fundo está embutido no valor das faturas pagas pelos consumidor­es, e recolhidas pelas empresas.

Em tese, esses recursos deveriam gerar um superávit para abater gastos da conta de luz de todos os consumidor­es, bancando uma parte dos subsídios e programas sociais pagos nas tarifas. No entanto, tem sido emprestado para as distribuid­oras desde agosto de 2016.

O ofício deixa claro que a situação de designação é insustentá­vel no médio e longo prazo, pois as empresas continuam a prestar serviços abaixo da qualidade mínima exigida e a registrar prejuízos que tornam as concessões insustentá­veis. Sem o dinheiro dos empréstimo­s, os consumidor­es locais teriam que arcar com reajustes médios da ordem de 30%.

Caso as distribuid­oras não sejam licitadas até 31 de julho de 2018, elas serão liquidadas. Nesse caso, a Aneel vai licitar apenas as concessões, ou seja, o direito de explorar o serviço de distribuiç­ão de energia. Já as empresas, a quem se vinculam as dívidas e os empregados, perdem a razão social e serão extintas pela Eletrobrás.

“A licitação é a alternativ­a que melhor atende ao interesse público.”

TRECHO DE OFÍCIO DE ROMEU RUFINO,

DA ANEEL, PARA O CONGRESSO

 ?? MARCOS DE PAULA/ESTADÃO - 18/7/2013 ?? Simbólico. Empresas serão vendidas por R$ 50 mil
MARCOS DE PAULA/ESTADÃO - 18/7/2013 Simbólico. Empresas serão vendidas por R$ 50 mil

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