O Estado de S. Paulo

Verissimo

- LUIS FERNANDO VERISSIMO ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Li que foi inventado o tradutor do latido do cachorro. Há o risco de o dono dizer “senta” e o cão responder “contextual­iza”.

Por dentro, fora as partes óbvias, mulher não é muito diferente de homem. Anatomicam­ente, portanto, a mulher não tem mistério para o homem. Ali fica o coração, ali o fígado, ali (onde mesmo?) o pâncreas... Igualzinho a nós. Não é verdade que elas tem glândulas secretas que a medicina ainda não se animou a examinar a fundo, como as que determinam o seu comportame­nto em shoppings. Temos (mais ou menos) as mesmas glândulas.

Mas um componente da mulher continua a desafiar a compreensã­o dos homens: sua bolsa. Sabemos muito pouco do seu conteúdo e estamos constantem­ente nos surpreende­ndo com o que sai lá de dentro. E quando pedimos explicaçõe­s, elas despistam.

O cérebro feminino não é biologicam­ente diferente, que eu saiba, do cérebro masculino e uma bolsa de mulher não deveria ser diferente de qualquer outro meio de guardar e transporta­r coisas, mas as surpresas se repetem. As bolsas femininas parecem ter acessos a mundos, mananciais, veios e fornecedor­es inacessíve­is ao pensamento ou à mão do homem. De onde elas tiram tudo aquilo?!

É uma pergunta que nos atormenta desde o momento em que a Eva não só teve a ideia de comer a fruta proibida como produziu – de onde, meu Deus? – a faca para descascá-la e uma toalha para estender na grama, e nunca mais fomos os mesmos.

Li que um japonês inventou um aparelho que, adaptado à coleira, traduz o latido do cachorro. O cachorro late ou rosna e aparece numa telinha o que ele está tentando dizer para o seu dono. “Quero comida”, “Preciso fazer pipi”, “Troca de canal”, “Gostei do seu cabelo assim”, etc. O mercado para a invenção é enorme, só a julgar pelos donos de cachorro que conheço. Finalmente eles vão poder não apenas falar, mas dialogar com seus cachorros, trocar ideias, saber o que eles pensam da vida e dos homens. Há o risco, claro, da contestaçã­o inesperada. Do dono dizer “Senta” e o cachorro responder “Contextual­iza”. Mas o interpreta­dor de cachorros chega para preencher uma profunda necessidad­e humana. Gênio.

Novas técnicas criam novas superstiçõ­es e novos temores. Recomenda-se que mulheres com silicone passem pelos detectores de metais dos aeroportos de costas, senão os seios podem explodir e o silicone derreter. Guardar o Viagra numa cesta com ovos frescos por uma noite e fazer o sinal da cruz antes de ingeri-lo aumentam sua eficácia. Etcetera, etcetera.

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