O Estado de S. Paulo

Pedro Parente na BRF

- Renata Agostini Mônica Scaramuzzo

O presidente da Petrobrás, Pedro Parente, aceitou convite e deve substituir Abilio Diniz no comando do conselho de administra­ção da BRF, dona de Sadia e Perdigão. Assembleia de acionistas deve aprovar o nome do executivo.

Pausa. Há quase dois meses em disputa aberta pelo comando da gigante de alimentos, os maiores acionistas da companhia – Abilio Diniz, Tarpon e os fundos Previ e Petros – entraram em acordo sobre o nome do presidente da Petrobrás para comandar colegiado

O presidente da Petrobrás, Pedro Parente, substituir­á Abilio Diniz no comando do conselho de administra­ção da BRF, dona de Sadia e Perdigão. O executivo confirmou ontem que aceitou o convite, feito pelos principais sócios. Com isso, abriu-se caminho para um acordo entre os maiores acionistas da BRF, que estavam em disputa aberta pelo comando da empresa de alimentos há dois meses. Em nota, Parente, que continuará presidente da petroleira, afirmou que, se seu nome for confirmado, vai renunciar ao comando do conselho da B3, bolsa paulista.

Em jogo está a condução da estratégia de negócios da maior exportador­a de frango do mundo, que vive uma profunda crise. Desde 2016, a empresa apresenta prejuízo, foi alvo de escândalos, como a Operação Carne Fraca, vem sofrendo restrições à venda no exterior e perdendo espaço no País. A companhia, avaliada em R$ 18,7 bilhões, já perdeu R$ 13,7 bilhões em valor de mercado nos últimos 12 meses. Ontem, as ações fecharam a R$ 23,04, com alta de 9,51%.

O acerto ocorre a uma semana da assembleia de acionistas, marcada para o dia 26, que escolherá um novo conselho. É nessa reunião que o nome de Parente deverá ser aprovado.

Ele foi convidado por Abilio, mas sua indicação teve apoio dos fundos de pensão da Petrobrás (Petros) e do Banco do Brasil (Previ), responsáve­is pelo pedido de destituiçã­o do atual colegiado. As conversas em torno desse novo acordo tiveram início na terça e foram finalizada­s na manhã de ontem, segundo fontes. Até então, os fundos defendiam o nome de Augusto Cruz, ex-Pão de Açúcar, para presidir o colegiado, enquanto Abilio apoiou Luiz Fernando Furlan.

O plano em curso é que os principais sócios apoiem enfim uma única relação de nomes para o colegiado, encabeçada por Parente. Fundos e emissários de Abilio já haviam tentando um acerto nesses moldes, mas o plano naufragou diante do impasse sobre alguns nomes.

Agora, isso teria sido superado, segundo fontes. Assim, a nova lista para o conselho já nasceria com o apoio de sócios que detém 35% do capital da BRF. São eles: Petros (11%), Previ (11%), a gestora Tarpon (8,5%) e a Península, de Abilio(3,9%).

A gestora Aberdeen, que tem 5% da BRF e vinha apoiando os fundos, é peça central no desenlace do conflito. Foi ela quem solicitou que a votação do novo colegiado seja feita por “voto múltiplo”, em que se vota em nomes e não em chapa única.

Ao Estado, Peter Taylor, gestor da Aberdeen, disse que não deve retirar a solicitaçã­o. “Acredito que o voto múltiplo forçou os acionistas a fecharem o acordo.” O consenso no nome de Parente, segundo Taylor, foi melhor que a Aberdeen esperava.

Histórico. Petros e Previ pediram destituiçã­o do atual conselho no início de março, após a BRF anunciar prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2017 – resultado atribuído pelos fundos ao comando de Abilio Diniz, presidente do conselho desde 2013.

Dono de menos de 4% das ações, Abilio, que nos últimos meses se afastou da Tarpon, antiga aliada, manteve a habitual linha dura nas negociaçõe­s. Além de manter influência no futuro conselho, por meio de executivos por ele indicados, o empresário buscava garantir a permanênci­a da diretoria da BRF. O atual presidente, José Aurélio Drummond, chegou ao comando com apoio de Abilio.

Governança em xeque. O acordo pode, enfim, pacificar os ânimos, mas a destruição de valor de mercado já é fato. Para Herbert Steinberg, sócio da Mesa Corporate, consultori­a especializ­ada em governança corporativ­a, o mercado espera que os acionistas da BRF possam deixar a disputa de poder de lado e olhar para a companhia. “Não é prática em outros países que fundos de pensão invistam em uma mesma empresa. Petros e Previ estão, juntos, como sócios da BRF, e também em outras empresas, como a Vale, por exemplo. Em termos de governança não é positivo. O ideal seria que cada fundo escolhesse empresas distintas para investir, não como consórcio em empresas”. Os desentendi­mentos entre Tarpon e Abilio, ao longo de 2017, também prejudicar­am a companhia. “Não dá para culpar um ou outro. A empresa é uma só e os acionistas devem se unir para melhorar a gestão.”

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BRUNO KELLY/REUTERS - 24/10/2017 Aposta alta. Pedro Parente renunciará à presidênci­a do colegiado da B3, se for eleito dia 26 para liderar conselho da BRF
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