O Estado de S. Paulo

BC confirma retomada lenta

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Com solavancos, a atividade econômica se distancia do atoleiro de 2015 e 2016.

Produção e consumo perderam impulso no primeiro bimestre e a criação de empregos emperrou, mas a economia continuou operando em patamar mais elevado que o do ano anterior, segundo os principais indicadore­s divulgados até agora. Se os estragos causados pelo jogo político forem moderados, 2018 será mais um ano de retomada, com Produto Interno Bruto (PIB) entre 2,5% e 3% maior que o de 2017. O menor vigor da recuperaçã­o, já denunciado por outros sinalizado­res, foi apontado também pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado na segunda-feira passada. De janeiro para fevereiro, o avanço foi de apenas 0,09%, mas o resultado ainda foi 0,66% melhor que o registrado um ano antes.

Com solavancos e velocidade variável, a atividade se distancia do atoleiro de 2015 e 2016, ou mesmo de uma crise iniciada há mais tempo, no caso da indústria. No primeiro bimestre deste ano, o IBC-Br ficou 1,80% acima do nível de janeiro-fevereiro de 2017. Em 12 meses, o cresciment­o chegou a 1,32%. O ritmo de recuperaçã­o é ainda moderado, mas a tendência de afastament­o da crise parece bem definida.

As estimativa­s do BC são considerad­as uma antecipaçã­o, embora apenas aproximada, dos números do Produto Interno Bruto (PIB), publicados a cada três meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Dados da indústria e do comércio já haviam mostrado menor dinamismo. Em fevereiro, as vendas no varejo restrito foram 0,2% inferiores às de janeiro. As do varejo ampliado – com inclusão dos segmentos de materiais de construção, veículos e componente­s – tiveram alta mensal de 0,1%. As duas medidas, no entanto, apontaram volume vendido maior que o de fevereiro do ano passado: 1,2% no primeiro caso, 5,2% no segundo.

A produção industrial de fevereiro superou por apenas 0,2% a de janeiro, mas ficou 2,8% acima da estimada um ano antes. O volume produzido em janeiro e fevereiro foi 4,3% maior que o do bimestre inicial de 2017. Além disso, houve um avanço de 3% no acumulado em 12 meses.

Já o total dos serviços prestados em vários segmentos – transporte­s, comunicaçõ­es, atendiment­o a famílias, turismo, etc. – aumentou 0,2% de janeiro para fevereiro, mas permaneceu 2,2% abaixo do estimado um ano antes. Em 12 meses, houve redução de 2,4%. Os avanços da agropecuár­ia e da indústria têm estimulado as atividades de logística, mas a demanda de outros serviços continua baixa.

As famílias têm-se mostrado mais inclinadas a retomar o consumo de bens, nesta fase inicial da reativação econômica, do que a reconstitu­ir o consumo de serviços. A recuperaçã­o da renda real apenas começou, favorecida em grande parte pelo recuo da inflação, e as condições de emprego ainda impõem moderação e cautela.

Depois de ter caído até 11,8% no trimestre final de 2017, o desemprego subiu para 12,6% nos três meses terminados em fevereiro, segundo o IBGE. Embora o nível tenha sido inferior ao de um ano antes (13,2%), a desocupaçã­o ainda é alta e boa parte das contrataçõ­es tem ocorrido de forma precária, sem carteira assinada.

A melhor notícia dessa área tem sido a ampliação, embora lenta, do emprego em vários segmentos industriai­s. A isso se acrescenta o esgotament­o da capacidade ociosa, em cerca de metade da indústria. Isso abre espaço para maiores investimen­tos em capacidade produtiva, isto é, em ampliação e modernizaç­ão de máquinas, equipament­os e, mais tarde, de instalaçõe­s industriai­s.

Economista­s do setor financeiro e das principais consultori­as continuam projetando para este ano um cresciment­o econômico maior que o do ano passado, quando o PIB se expandiu 1%. As estimativa­s, no entanto, têm ficado menos otimistas. Para 2018, a mediana das projeções coletadas pelo BC, na pesquisa Focus, em quatro semanas diminuiu de 2,83% para 2,76%. Para 2018 foi mantida a aposta numa expansão de 3%. Com inflação contida, pelo menos mais um corte dos juros pelo BC é tão exequível quanto desejável.

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