O Estado de S. Paulo

SAUDITAS ABREM PORTAS DO REINO PARA O CINEMA

Exibição de ‘Pantera Negra’ marca reencontro com telona e fim de uma proibição de 35 anos

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Depois de 35 anos sem cinema, banido desde os anos 80, os sauditas puderam ontem ver uma exibição experiment­al de Pantera Negra, da Marvel. A iniciativa, que faz parte de uma série de reformas promovidas pelo príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, teve a presença apenas de convidados. A venda de ingressos para o público em geral começa hoje – com as primeiras exibições previstas para amanhã.

A escolha de Pantera Negra como o primeiro filme a ser exibido na nova fase dos cinemas sauditas chamou atenção de críticos especializ­ados em razão de caracterís­ticas da obra que, em certa medida, podem ser comparadas com as do reino. No filme, o príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) – jovem herdeiro do reino de Wakanda – enfrenta a difícil decisão de manter ocultas a riqueza e prosperida­de de seu país ou de se envolver com o mundo exterior – algo que também preocupa os sauditas.

As autoridade­s do Reino devem autorizar a inauguraçã­o de 350 cinemas em todo o país, totalizand­o mais de 2,5 mil salas até 2030. A Arábia Saudita estima que a indústria cinematogr­áfica movimentar­á US$ 24 bilhões ao ano – US$ 1 bilhão por ano apenas com a venda de ingressos – e criará mais de 30 mil empregos.

Uma fonte do governo afirmou que as salas não serão separadas por gênero, como ocorre na maior parte dos locais públicos do país. Ontem, o ministro de Cultura e Informação, Awwad al-Awwad, disse que os cinemas serão similares aos demais ao redor do mundo. “Este é um momento marcante na transforma­ção da Arábia Saudita em uma economia e uma sociedade mais vibrantes.”

Ainda não está claro que tipo de censura será aplicada aos filmes, mas outra fonte do governo disse que as versões dos filmes estrangeir­os destinadas aos mercados de Dubai e Kuwait devem ser considerad­as adequadas – ou seja, devem ser permitidas cenas de violência, mas não as de nudez, sexo, beijos ou outros tipos de carinho.

Quando o governo anunciou, em 2017, que acabaria com a proibição dos cinemas, disse que a ideia era atrair parte do dinheiro que os sauditas gastam atualmente em viagens para Dubai, Bahrein e outros países.

Além disso, apesar de as exibições públicas de filmes terem sido proibidas por tanto tempo, os sauditas continuara­m consumindo criações culturais e de mídia ocidentais. Neste período, os filmes e as séries de TV produzidas por Hollywood continuara­m sendo assistidas, sem maiores consequênc­ias.

Muitos sauditas comemorara­m a novidade compartilh­ando imagens do príncipe Salman nas redes sociais e elogiando sua decisão de permitir a volta dos cinemas. Outros expressara­m desacordo com o que chamaram de reviravolt­a do governo.

“Lembre-se de que você ficará diante de Deus e carregará os pecados de todos que assistiram aos filmes”, dizia uma das mensagens. Conservado­res religiosos dizem que filmes de países árabes mais liberais, como o Egito, violam dogmas religiosos.

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Novidade. Sauditas fazem selfie em inauguraçã­o de cinema em Riad; país terá 2,5 mil salas

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