Bispo e padres de Formosa são soltos
Houve cânticos e festa na saída de prisão; religiosos são acusados de desviar dízimo, mas novo administrador não vê fundamento em denúncia
Após quase um mês de detenção, sorrisos e liberdade, ao som de cânticos religiosos. O bispo de Formosa, d. José Ronaldo Ribeiro, e outros seis presos durante a Operação Caifás, deflagrada em março pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado, deixaram a prisão na noite de anteontem. Por unanimidade, a 2.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) concedeu habeas corpus, acatando ao pedido da defesa.
Imagens divulgadas pela TV Anhanguera mostram a chegada do oficial de Justiça ao presídio de Formosa, acompanhada por parentes e amigos dos acusados, que comemoraram a soltura com palmas. Sorridente, d. José Ronaldo esboçou uma bênção aos presentes, mas não quis dar declarações. A diocese também não se pronunciou.
Além de d. Ronaldo, foram soltos o monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, os padres Mário Vieira de Brito, Walterson José de Melo e Moacir Santana, além dos empresários Antônio Rubens Ferreira e Pedro Henrique Costa, apontados como “laranjas” do esquema. O juiz eclesiástico Thiago Wenceslau de Barros permanece preso, pois, segundo seu advogado, o pedido dele ainda não foi analisado pela Justiça. A expectativa também é de decisão favorável.
A Justiça exige, no entanto, o cumprimento de uma série de medidas cautelares. São elas: proibição de se ausentar da comarca e do País sem autorização da Justiça; comparecimento mensal ao juízo para informar e justificar atividades; obrigação de comparecerem a todos os atos judiciais para os quais forem intimados; obrigação de informar mudança de endereço e recolhimento domiciliar a partir das 22 horas.
As investigações da Operação Caifás culminaram na prisão do grupo no dia 19 de março. Os religiosos são suspeitos de integrar uma organização criminosa acusada de desviar mais de R$ 2 milhões da Igreja Católica. Além do dízimo, a investigação apontou que o grupo se apropriava de dinheiro oriundo de doações, arrecadações de festas realizadas por fiéis e taxas de eventos como batismos e casamentos. Com o dinheiro, os suspeitos teriam comprado uma fazenda de gado, carros de luxo e até uma agência lotérica.
Reação da Igreja.
As suspeitas de corrupção na diocese goiana de Formosa, a 80 quilômetros de Brasília, vinham sendo investigadas desde 2015, mas a prisão do bispo d. Ronaldo Ribeiro, 61 anos, surpreendeu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Quando um grupo de católicos de Formosa denunciou o escândalo, d. Ronaldo declarou, ano passado, que não havia irregularidade no emprego dos fundos arrecadados com a contribuição dos fiéis. Os paroquianos suspenderam a coleta do dízimo, em janeiro. Formosa tem 33 paróquias e 43 padres. Prelazia apostólica desde 1956, foi elevada a diocese em 1979. D. Ronaldo, até então bispo de Janaúba, em Minas, foi transferido para Formosa em 2014.
Na segunda-feira, o arcebispo de Uberaba, d. Paulo Mendes Peixoto, nomeado administrador apostólico de Formosa (GO), relatou em sessão privada a situação para os participantes da Assembleia Geral da CNBB em Aparecida, mostrando as dificuldades que está enfrentando para acompanhar o processo. Peixoto, que conduz apurações da Igreja sobre as suspeitas, contestou os indícios e saiu em defesa do religioso.
“D. Ronaldo foi preso no dia 19 de março a pedido do Ministério Público de Goiás, com mais dez pessoas, em consequência de denúncias que parecem não terem fundamento”, disse d. Paulo ao Estado, ao lado de d. José Aparecido Gonçalves de Almeida, bispo auxiliar de Brasília e seu assessor jurídico no caso. Ele contou que teve uma crise de choro ao visitar d. Ronaldo no presídio, dia 5. “Estava vestido de bermuda e camisa brancas, como os outros presos, no setor da enfermaria, onde conversei com ele por uma hora. Está debilitado moralmente, por causa das acusações, que afirma serem falsas.”
O administrador não encontrou até agora registro de gastos excessivos ou de compras de carros de luxo. Além de haver justificativa (herança individual) para a fazenda e a lotérica. Com relação ao excesso de gastos na residência episcopal, as investigações de d. Paulo Peixoto e de d. José Aparecido levam a crer que as despesas aumentaram pelo fato de d. Ronaldo ter acolhido ex-dependentes de drogas e dois jovens que criou e o chamam de padrinho.