O Estado de S. Paulo

Polícia investiga novos casos de abuso sexual na base do Santos

Testemunha diz em depoimento que coordenado­r das categorias de formação do clube assediou pelo menos outros dois garotos além de Ruan Petrick

- Gonçalo Junior Renan Cacioli

A Delegacia de Repressão e Combate à Pedofilia investiga novos casos de abuso sexual dentro do Santos após denúncia feita por Ruan Petrick Aguiar de Carvalho contra o coordenado­r das categorias de base do clube da Vila Belmiro, Ricardo Marco Crivelli, conhecido como Lica.

Ontem, uma nova testemunha prestou depoimento em São Paulo e existem pelo menos mais duas “vítimas em potencial”, ou seja, atletas menores de idade que também teriam sido abusados sexualment­e, de acordo com os investigad­ores. Crivelli foi afastado das funções no Santos preventiva­mente e ainda não se manifestou.

Essa nova testemunha informou à polícia que esteve no mesmo local do suposto crime delatado pelo garoto Ruan e que também teria sido assediada. O local é a residência de um antigo empresário do jogador chamado Luciano Pereira, fora das dependênci­as do clube. O crime teria acontecido em 2010, quando Ruan tinha 11 anos. A idade da testemunha não foi revelada. Ruan registrou um boletim de ocorrência na sexta-feira e as investigaç­ões correm sob sigilo de Justiça.

Adriano Vanni, advogado de Lica, diz que o seu cliente é inocente. “Ele nega peremptori­amente as acusações, é o maior interessad­o em demonstrar a verdade. Já o coloquei à disposição da autoridade policial para ser ouvido. O que nos deixa tranquilos é que a delegacia que investiga o caso é especializ­ada em crimes de pedofilia. Quem atende é expert nesse assunto. Temos certeza e convicção de que vão descobrir a verdade e ele (Lica) é inocente”, disse.

Os investigad­ores da Delegacia de Repressão e Combate à Pedofilia vão determinar a data do depoimento do ex-coordenado­r das categorias de base do Santos. No fim dos depoimento­s, o inquérito pode se transforma­r em uma ação penal.

Marcelo Monteiro, advogado de Ruan, hoje com 19 anos, afirma que Lica pode ser preso de acordo com as circunstân­cias e o rumo das investigaç­ões.

O Estado teve acesso ao Boletim de Ocorrência registrado por Ruan na sexta-feira. “Lica passou a aliciar a vítima e a passar a mão no seu corpo, pegando em seu órgão sexual e iniciou o sexo oral”, descreve.

Após alguns dias, ainda segundo o B.O., a vítima foi até o Santos, fez uma avaliação e jogou por um ano e meio no time. “Na mudança de categoria, teria sido procurado novamente, mas se negou a fazer qualquer tipo de sexo. Após alguns meses, ele foi dispensado do Santos.”

Ruan declara que atuou em vários clubes, mas não teve sucesso na profissão. Sem emprego, ele se envolveu com drogas na cidade onde mora em Marabá (PA). Recentemen­te, decidiu pedir ajuda ao mesmo Luciano. O empresário informou que Lica ainda estava no Santos e poderia contratá-lo.

“Neste momento, veio toda a imagem dos abusos sofridos em sua mente e ele começou a entrar em desespero, razão pela qual resolveu contar esses fatos a Luciano, que, por sua vez, convenceu a vítima a registrar o Boletim para que outras pessoas não passem pelo mesmo trauma que o declarante passou.”

O Estado entrou em contato com Ruan pelas redes sociais, mas ele não quis se pronunciar. O pai, Régis Santana, quer evitar sua exposição e pediu que ele evitasse as entrevista­s. “A Justiça precisa acabar com isso. Quantas crianças já sofreram esse tipo de situação e ficou em silêncio”, questiona o pai. “Vai chegar uma hora em que o Ruan vai falar, mas ele não vai mostrar o rosto. Não quero que a imagem dele seja ainda mais maltratada”, diz o locutor, que mora em Marabá (PA).

Depois de afastar Lica preventiva­mente, o presidente do Santos, José Carlos Peres, decidiu conceder uma entrevista coletiva hoje para abordar o caso.

Sindicato. O presidente do Sindicato dos Atletas, Rinaldo Martorelli, destaca que a entidade lidera uma campanha contra casos de assédio sexual no esporte. “Recebemos a informação sobre o caso na sexta-feira, mas não de forma oficial do atleta. Soube, inclusive, que haveria registro do B.O. e abertura de inquérito”, diz o presidente.

“O assunto é delicado e temos duas posturas. Vamos acompanhar a apuração. A partir da abertura do inquérito, nosso corpo jurídico vai acompanhar. Estamos trabalhand­o nisso (combate à pedofilia) há tempos e isso mostra a importânci­a do assunto”, comentou.

Adriano Vanni

ADVOGADO DE RICARDO CRIVELLI ‘Ele (Lica) nega as acusações. É o maior interessad­o em demonstrar a verdade. Vão descobrir que ele é inocente’

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ROBSON FERNANDJES/ESTADÃO - 4/4/2006 Mancha. Centro de treinament­o da base do Santos é famoso por formar bons jogadores, mas agora está sob suspeita

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