O Estado de S. Paulo

Projeto que cria cadastro positivo trava na Câmara

Previsão do governo era de que o texto fosse votado ontem, mas o presidente da Casa, Rodrigo Maia, adiou para semana que vem

- Fabrício de Casto Igor Gadelha / BRASÍLIA

O governo não conseguiu colocar o cadastro positivo em votação ontem na Câmara dos Deputados. Após perceber que havia risco de derrota, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou a sessão. A votação deve ficar para a próxima semana.

O projeto cria condições para que consumidor­es e empresas que pagam as contas em dia acessem linhas de crédito com taxas de juros mais baixas. Esse é o principal objetivo do cadastro, que traz regras novas para adesão. Pela lei atual, de 2011, o cadastro é formado apenas por consumidor­es que solicitam a inclusão no banco de dados – o que, na prática, torna o cadastro irrelevant­e para análise de crédito.

Se o projeto for aprovado, a inclusão no cadastro será automática, sendo que o consumidor que quiser sair terá de solicitar a exclusão.

Cada pessoa terá uma pontuação referente ao seu histórico de crédito. A pontuação levará em conta o histórico de bom pagador em operações de crédito e também no pagamento de contas de água, esgoto, luz, gás e telefone, entre outras. Isso é uma novidade trazida pelo projeto, já que antes não eram considerad­as as informaçõe­s quanto ao pagamento desses serviços. Pessoas com renda mais baixa, por exemplo, que muitas vezes não possuem histórico de operações de crédito, entrarão no cadastro por pagarem contas de luz e telefone.

O texto prevê que a inclusão no cadastro é automática, mas o consumidor será comunicado sobre isso, por escrito, em até 30 dias. Além disso, as informaçõe­s somente poderão ser compartilh­adas 60 dias após a abertura do cadastro.

Para o Banco Central, com o cadastro, o risco das operações de crédito vai diminuir, o que permitirá a queda do spread – a diferença entre o custo de captação dos bancos e o que é efetivamen­te cobrado do consumidor final. Na prática, a intenção é que, com o tempo, os bancos ofereçam crédito mais barato para as pessoas com pontuação maior em função do histórico de pagamentos.

Sob a relatoria do deputado federal Walter Ihoshi (PSDSP), o texto do novo cadastro positivo passa por intensa negociação entre representa­ntes do Banco Central e deputados.

Parlamenta­res também estão sendo pressionad­os por entidades de defesa do consumidor e mesmo instituiçõ­es financeira­s contrárias à proposta. Alguns deles defendem que o projeto abrirá espaço para utilização de dados sigilosos. “Estamos deixando brasileiro­s vulnerávei­s na mão de birôs, que serão mais poderosos que o governo”, disse o líder do PRB na Casa, Celso Russomano (SP), que é da base aliada e milita na área do direito do consumidor.

Russomano, que chegou a anunciar na semana passada acordo para votar a favor do texto, recuou e disse que só votaria pela aprovação se houvesse compromiss­o do governo em manter o texto aprovado pela Câmara. Um dos principais defensores do cadastro positivo, o presidente da Câmara, então, ligou para Temer na tarde de ontem para pedir esse compromiss­o. Segundo Maia, Temer se compromete­u a vetar mudanças feitas pelos senadores.

“Se o texto da Câmara não chegar à Presidênci­a, o presidente vai vetar”, anunciou ele no plenário. Mesmo com o acordo, deputados da base aliada ainda resistiam à proposta. O projeto já foi aprovado no Senado, mas, como foi modificado na Câmara, precisa de novo aval dos senadores.

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CLEIA VIANA/CAMARA DOS DEPUTADOS Câmara. Maia encerrou sessão antes da votação do projeto

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