O Estado de S. Paulo

Uma agenda de modernizaç­ão

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Ao defender arrumação fiscal, ministro deixa claro vínculo entre reformas e expansão.

Oassunto é cresciment­o, com geração de emprego, renda e condições melhores de vida. Disso se trata, quando se insiste na faxina das contas públicas e na criação de melhores condições para uso do dinheiro pago pelos contribuin­tes. O novo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, deixa claro o vínculo entre reformas, ajustes e expansão econômica ao defender a arrumação fiscal como condição para ganhos de eficiência. Ele tratou do assunto numa entrevista coletiva em Washington, onde participou da reunião de primavera do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

Condições para a sustentaçã­o e a aceleração do cresciment­o nos próximos anos foram um dos temas da entrevista. Economista­s do FMI têm chamado a atenção, há anos, para a baixa produtivid­ade da economia brasileira. Por isso, segundo suas contas, o Brasil deverá crescer em torno de 2,2% ao ano, no médio prazo, depois de um arranque pouco mais forte ao sair da recessão.

O desafio de elevar o potencial de cresciment­o tem estado no topo da pauta do governo. Pela estimativa oficial, o País tem hoje capacidade para crescer uns 2,5% ao ano de forma sustentáve­l, isto é, sem geração de pressões inflacioná­rias e de outros desajustes graves. Segundo Guardia, reformas poderão abrir caminho para um potencial na faixa de 3,5% a 4%, um ganho importante, se considerad­o o efeito cumulativo em alguns anos.

Para elevar a capacidade produtiva e de cresciment­o é preciso formar capital fixo (máquinas, equipament­os e construçõe­s) e capital humano (pessoal qualificad­o) e cuidar do progresso tecnológic­o e das inovações. O Brasil tem avançado pouco nessas frentes. Na formação de capital fixo, por exemplo, o valor investido tem superado muito raramente 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Nas piores fases, tem ficado próximo de 16%. Taxas iguais ou superiores a 24% são encontrada­s em países latinoamer­icanos e níveis ainda mais altos estão associados ao dinamismo de economias da Ásia.

Especialme­nte baixo tem sido o investimen­to do setor público. Esse problema é associado à despoupanç­a do governo, efeito da gastança e dos critérios indigentes de uso de recursos oficiais. Mesmo com ajustes, o Tesouro continuará sem recursos para investir o necessário em capital fixo (como rodovias, portos e aeroportos e sistemas energético­s). Por isso precisará atrair a participaç­ão privada, por meio de concessões e privatizaç­ões. Isso dependerá de bons projetos, de perspectiv­as razoáveis de ganhos e de segurança contratual.

Cuidar do desenvolvi­mento social, com investimen­tos em saúde, saneamento, formação de mão de obra e apoio à pesquisa científica e tecnológic­a, será uma contribuiç­ão preciosa, se houver competênci­a na definição de objetivos, na elaboração de projetos e na execução de políticas. Assegurar condições para a reforma da Previdênci­a é igualmente importante. Para defender a mudança bastaria um olhar para a insustenta­bilidade financeira do sistema, que adeptos do pensamento mágico ainda não conseguem reconhecer.

A tudo isso é preciso somar inflação baixa, condições legais bem estabeleci­das, redução de entraves burocrátic­os, simplifica­ção tributária e, enfim, a possibilid­ade de horizontes claros. Projetos como o da simplifica­ção do PIS-Cofins e da autonomia operaciona­l do Banco Central, também lembrados pelo ministro da Fazenda, integram a agenda de criação desse ambiente mais propício às decisões de investimen­to e de expansão dos negócios.

O atual governo tem poucos meses para tentar avançar na execução dessa pauta. Não há como prever, por enquanto, se o governante eleito em outubro terá uma clara percepção dos passos necessário­s à modernizaç­ão e à dinamizaçã­o da economia nacional.

Uma das poucas certezas deste momento é citada pelo ministro: além de compromete­r o futuro, qualquer recuo na agenda de ajustes e reformas poderá também liquidar os avanços conseguido­s até agora, como o teto de gastos e a redução da inflação.

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