O Estado de S. Paulo

Manutenção do foro explica índice alto de reeleição

- Marco Antonio Carvalho Teixeira ✽ PROFESSOR DO CURSO DE ADMINISTRA­ÇÃO PÚBLICA DA FGV-SP

Odebate público acerca do processo eleitoral 2018, como de tradição, está sendo dominado pela sucessão presidenci­al. Todavia, é necessário destacar a importânci­a da disputa por uma vaga para o Congresso Nacional, sobretudo a de deputado, pelas questões que cercam esse pleito. O dado de que cerca de 90% dos deputados federais no exercício de seus mandatos vão tentar a reeleição permite levantar algumas reflexões quando se observa o atual contexto político.

Consideran­do que é bem significat­iva a quantidade de parlamenta­res investigad­os na Operação Lava Jato, assim como também é razoável o número daqueles que já respondem processos por suspeitas de envolvimen­to em diferentes escândalos de corrupção, a manutenção do foro privilegia­do torna-se uma das razões explicativ­as desse índice tão alto de parlamenta­res em busca de reeleição. O raciocínio é simples: a Lava Jato e outras investigaç­ões andam bem mais rápidas para aqueles que não possuem a proteção do foro, uma vez que estes podem ser investigad­os já na primeira instância e não apenas pelo STF. O caso Sérgio Cabral é um exemplo revelador. Fosse ele pelo menos deputado federal, provavelme­nte ainda não estaria cumprindo pena de prisão.

Outra questão importante a ser colocada nesse contexto tem a ver com a perspectiv­a de renovação na Câmara dos Deputados frente ao desgaste de imagem enfrentada por essa legislatur­a que se encerra. É bom lembrar que ter um gabinete com recursos e funcionári­os, usufruir de emendas parlamenta­res e levar recursos públicos para a sua base eleitoral sob a forma de políticas públicas, propiciam uma enorme vantagem competitiv­a para quem disputa a reeleição. Desse modo, os que não possuem mandatos e estão fora desse sistema de uso de recursos públicos vão sofrer enormes dificuldad­es para angariar votos.

Por fim, faria muito bem à democracia se o debate sobre as eleições legislativ­as tivesse mais espaço na sociedade. Afinal, apesar de existir a possibilid­ade de o STF colocar na sua agenda a rediscussã­o do alcance do foro no curto prazo, o ideal seria que o próprio Congresso Nacional se encarregas­se de fazer isso. Entretanto, esperar que os parlamenta­res alterem um ativo que hoje serve para a proteção deles depende muito do grau de pressão que a sociedade pode fazer sobre o Congresso. Sendo assim, mais do que esperar renovação de nomes, a sociedade deveria pressionar por mudanças de práticas políticas e fazer isso não depende do resultado de cada eleição.

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