O Estado de S. Paulo

Empresas regulam doações eleitorais de funcionári­os

Após escândalos envolvendo financiame­nto de campanhas políticas, instituiçõ­es adotam códigos de conduta para esse tipo de repasse

- Isadora Peron / BRASÍLIA

Na primeira eleição geral que contará só com financiame­nto de pessoas físicas e recursos públicos, as principais empresas do País têm orientado seus executivos e funcionári­os a não vincularem eventuais doações a candidatos às companhias onde trabalham. Há casos de empresas que chegaram a proibir esse tipo de repasse até mesmo por parentes de seus empregados.

O veto à participaç­ão no processo de financiame­nto de campanha partiu principalm­ente de companhias que se envolveram na Operação Lava Jato, e que tiveram seus ex-presidente­s presos, como as empreiteir­as OAS e UTC e o banco BTG Pactual.

A OAS é a que adota o posicionam­ento mais rígido entre as empresas pesquisada­s pelo Estado ao recomendar que seus colaborado­res “não realizem doações político-partidária­s em nome próprio, nem por meio de seus respectivo­s cônjuges e parentes de 1.º grau”. Em nota, a construtor­a afirmou que a medida pretende evitar que uma possível doação seja atribuída à empresa. Em 2014, a OAS foi uma das dez maiores doadoras de campanhas eleitorais – quase R$ 83 milhões.

A UTC registra em seu código de conduta que fornecedor­es e colaborado­res “não devem aceitar pedidos financeiro­s, pleitos, provocar ou sugerir qualquer tipo de ajuda financeira, pagamento de ‘taxa de urgência’, gratificaç­ão, prêmio, comissão, doação, presente ou vantagem pessoal” a empresas públicas ou candidatos. O BTG Pactual, por sua vez, estabelece­u que seus diretores e sócios “não estão autorizado­s a fazer qualquer tipo de doação eleitoral”.

Outra empresa que adotou essa determinaç­ão foi o Itaú Unibanco, apesar de não estar citada na Lava Jato. A instituiçã­o vetou a “contribuiç­ão por administra­dores

e respectivo­s cônjuges para partidos e campanhas políticas em anos eleitorais”.

Ao todo, o Estado procurou 35 empresas e recebeu respostas de 15 delas – responsáve­is por R$ 1,042 bilhão em doações eleitorais em 2014, um terço do total. De maneira geral, as empresas consultada­s afirmaram que não irão proibir seus funcionári­os de fazerem doações a políticos, mas recomendam que fique explícito que essas contribuiç­ões são independen­tes.

Esse será o caso da empresa JBS, campeã de doações em 2014 e epicentro do escândalo que resultou em duas denúncias contra o presidente Michel Temer. “A JBS respeita a legislação e o direito de seus colaborado­res participar­em do processo político”, diz a empresa. “Mas eventuais doações devem ser em caráter estritamen­te pessoal, sem a intenção de obter vantagens ou benefícios.”

Mesmo protagonis­tas da Lava Jato, como a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, também liberaram seus funcionári­os a fazerem doações, com a ressalva de que “não devem relacionar de forma alguma as contribuiç­ões ou opiniões políticas à empresa”. Ambev e Bradesco, Banco do Brasil, Petrobrás e Eletrobrás também vão adotar a mesma política.

“Fornecedor­es e colaborado­res não devem aceitar pedidos financeiro­s, pleitos, provocar ou sugerir qualquer tipo de ajuda financeira, pagamento de ‘taxa de urgência’, gratificaç­ão, prêmio, comissão, doação, presente ou vantagem pessoal”

CÓDIGO DE CONDUTA DA EMPREITEIR­A UTC, UMA DAS EMPRESAS ENVOLVIDAS NA LAVA JATO

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