Sede do Partido Liberal mantém cenário de assassinato
Rodrigo Quintana havia se refugiado no prédio da repressão ao protesto contra lei que habilitaria a reeleição presidencial
O quarteirão das ruas Iturbe com Manuel Domínguez de Asunción, onde fica a sede do Partido Liberal, tem paredes e calçadas com pichações que lembram a madrugada de 1.º de abril de 2017, quando Rodrigo Quintana foi morto a tiros pela Polícia Nacional na sede política. “Quem deu a ordem?”, “Justiça para Rodrigo” e “Cartes assassino 31M” são as frases que levam ao edifício azul.
“Rodrigo havia começado na vida política dois anos antes. Estava muito preocupado com a situação do país, era imparável. Eu sentia orgulho, também fui ativista. No dia 31, ele saiu às 17 horas de casa e a mãe conversou com Rodrigo pela última vez quando ele estava chegando a Assunção”, lembra o pai do jovem, Fidelino Quintana.
Até hoje, a discussão em torno do caso é sobre quem deu a permissão para a polícia invadir a sede. O suboficial Gustavo Florentín, que assumiu ter sido o autor do disparo que matou o jovem de 25 anos, está preso, foi acusado e deve ser submetido a um júri.
“A polícia envolvida no caso foi quem realizou a investigação apresentada pela Procuradoria que, com base nesses relatórios preparados para processar apenas integrantes do baixo escalão, acusou uma pessoa. Evidências mostram que chegaram mais de 25 policiais de forma organizada e de diferentes pelotões, que respondem a diferentes chefes”, explica o advogado Guillermo Duarte, contratado pelo partido para cuidar do caso da família de Quintana.
Hoje, a sede do partido tem movimentação normal, com funcionários discutindo as propostas políticas da aliança formada pelo candidato do Partido Liberal à presidência, Efraín Alegre, e outros políticos de partidos de esquerda e centro. No corredor onde Quintana foi morto, a cena está preservada. O exato local onde ele ficou caído após receber o disparo pelas costas permanece intacto, com uma proteção de vidro.
“O movimento jovem do qual meu filho participava quis manter a cena aqui para lembrar que isso nunca mais pode acontecer”, explica Fidelino, mostrando cada passo que o filho – presidente da Juventude do Partido Liberal – deu antes de ser atingido.
Os vídeos das câmeras de segurança mostram Quintana ser atingido pelas costas e cair no corredor do térreo. Um policial passa por ele, pisa em seu corpo, vê que ele não reage e continua andando. Esse policial é Florentín, que na época disse ter recebido autorização para entrar no edifício.
Na noite do dia 31 de março, protestos tomaram o centro de Assunção e manifestantes invadiram o Congresso e atearam fogo dentro do edifício após 25 senadores aprovarem o projeto de emenda constitucional para habilitar a reeleição presidencial.