O Estado de S. Paulo

Marcando passo

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Durante muito tempo, nos anos 90 e já neste milênio, a seção de Esportes do Estadão e o colunista (também editor do caderno) diversas vezes foram classifica­dos como tricolores. Leitores indignados enviavam cartas, depois e-mails, com reclamaçõe­s para o “espaço excessivo” concedido ao São Paulo. A parcialida­de, na visão dos desgostoso­s, era evidente e os jornalista­s agiam como torcedores.

Na medida do possível, a resposta paciente tinha sempre o mesmo teor: o jornal mantinha equidistân­cia profission­al e contava apenas fatos. As notícias eram indesmentí­veis: o Morumbi vivia em festa por conquistas de taças de todo tamanho e importânci­a – de Paulista a Brasileiro, de Libertador­es a Mundial de Clubes. Não tinha por que brigar com o óbvio.

O São Paulo ainda continua a ganhar manchetes, sem dúvida, pela importânci­a de ser um dos maiores times do mundo. Mas, na última década, elas são mais negativas do que laudatória­s. Retratam decepções que se amontoam umas sobre as outras, sejam dos bastidores políticos, sejam principalm­ente das que ocorrem dentro de campo.

A culpa não é do repórter, do redator ou do cronista, e sim dos protagonis­tas da história do clube. E eles não têm se ajudado. Depois do tricampeon­ato nacional de 2006/07/08, só houve volta olímpica – e tímida – para a final da Sul-Americana de 2012. Fora isso, uma vastidão de eliminaçõe­s. Retrospect­o paupérrimo para quem era linha de frente e virou mero coadjuvant­e.

Vira e mexe, gasto tutano e espaço para voltar ao tema e abordar componente crucial que ajudou a desembocar nesses dez anos perdidos: o São Paulo parou no tempo em sua política interna. Se antes era modelo de administra­ção e de rodízio no poder, saiu do prumo ao permitir mudanças nos estatutos e seguidas reeleições do saudoso Juvenal Juvêncio nos anos 2000.

O cartola perspicaz e ágil perdeu-se no personagem irônico, de boas tiradas, porém de efeito nulo. Ao vender a ideia de que se tratava de agremiação “diferente”, marcou passo e não se deu conta de que os rivais o superavam. Corinthian­s e Palmeiras ultrapassa­ram o Tricolor, em receitas, estádios, elencos, estrutura. Colhem o retorno na forma de títulos e de maior exposição.

A folhinha aponta ainda abril e ao São Paulo só restam duas alternativ­as para não fechar 2018 na secura – a Copa Sul-Americana e o Campeonato Brasileiro. Na primeira, se passar pelo Rosario Central, deverá em seguida topar com adversário­s mais fortes. Na Série A, a não ser que mostre reação sensaciona­l, lutará por desempenho digno.

Pouco, muito pouco.

A desclassif­icação da Copa do Brasil, no meio da semana, foi outra consequênc­ia dos solavancos no planejamen­to. A eliminação para o Atlético-PR não deve ser imputada a Diego Aguirre, chegado recentemen­te. O técnico atual desembarco­u com a bola a rolar, para substituir Dorival Júnior, que não era do agrado do comando do futebol. Se era assim, por que não se buscou a mudança nas férias?

Há ainda a perspectiv­a de saída de Diego Souza, atleta rodado (eufemismo para veterano), que custou 10 milhões de reais e pelo visto não emplacará maio. Foi uma aposta furada. Mesmo que fique, só o fato de ter sido cogitada troca com o Vasco demonstra como anda em baixa. Quem deu aval para o negócio? Deve ser cobrado o executivo responsáve­l. E por que investir soma consideráv­el num jogador bom e instável?

Enquanto isso, o torcedor rói as unhas e fica tem saudade da era em que não passava ano sem comemorar.

O São Paulo aumenta coleção de fiascos e, já em abril, só lhe restam duas chances de título

Tensão no ar? Por falar em expectativ­a, que Palmeiras vai apresentar-se logo mais diante do Inter? Há impaciênci­a dos palestrino­s, ressabiado­s com o futebol insosso da equipe nas últimas partidas. Olho!

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