O Estado de S. Paulo

90% dos acordos superam a inflação

Reajuste real médio foi de 0,9% para os acordos salariais fechados no 1º trimestre

- Márcia De Chiara

O recorde de baixa da inflação neste início de ano ajudou o trabalhado­r na hora de fechar os reajustes salariais. Quase 90% das negociaçõe­s no primeiro trimestre tiveram ganhos acima da inflação. Não se via número tão grande de categorias com reposição integral das perdas provocadas pela inflação desde 2014. Isso é o que aponta um levantamen­to, feito a pedido do ‘Estado’, pelo Projeto Salariômet­ro da Fipe, com base nos dados do Ministério do Trabalho.

Apesar de o desemprego continuar elevado, com mais de 13 milhões de brasileiro­s sem trabalho, a situação de quem está empregado é mais favorável neste momento porque a inflação está baixa. Nos últimos dez anos, foi a primeira vez que houve a combinação de inflação baixa com reposição real de salários. “É uma situação inédita e o melhor dos mundos”, afirma Hélio Zylberstaj­n, professor da Faculdade de Economia da USP e coordenado­r do Salariômet­ro. Hoje, diz ele, os reajustes reais não são muito altos, mas a inflação está muito baixa. Isso evita a corrosão dos ganhos a partir do momento que o trabalhado­r recebe o salário.

“É uma situação inédita e o melhor dos mundos.” PROFESSOR DA FEA/USP

“Foi um grande feito o reajuste de 6%.” PRESIDENTE DOS SINDICATO DOS TRABALHADO­RES NA INDÚSTRIA DE ARTEFATOS DE BORRACHA

“Conseguimo­s o maior reajuste real em dez anos.” SUPERINTEN­DENTE DO SINDICATO DOS TRABALHADO­RES EM COOPERATIV­AS

No primeiro trimestre, a inflação média acumulada em 12 meses pelo INPC, que baliza os reajustes salariais, foi de 1,9%. Os quase 800 reajustes fechados no período tiveram ganho real de 0,9%, em média, aponta o estudo. Com a inflação baixíssima, os trabalhado­res agora estão numa situação privilegia­da, diz o economista. Isto é, eles conseguem ganhos reais nos reajustes e não perdem o poder de compra do salário porque a tendência é de a inflação continuar em baixa.

Marcio Antonio Vieira, presidente do Sindicato dos Trabalhado­res nas Indústrias de Artefatos de Borracha e Pneumático­s de São José do Rio Preto e Região, conseguiu negociar um reajuste salarial de 6% em fevereiro com dez empresas de beneficiam­ento de borracha natural. Esse aumento represento­u um ganho real – descontada a inflação – de 4%. “Foi um grande feito”, diz. No ano passado, o sindicato conseguiu um aumento de 8%. Mas como a inflação era de quase 6%, o ganho real foi bem menor, de 2%.

Com inflação baixa, os empregador­es podem se dar ao luxo de dar um pouquinho mais, porque esse reajuste não pesa tanto nos custos e o repasse é mais tranquilo, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultore­s.

Flexibilid­ade. Apesar do ganho real maior no salário, Vieira conta que teve de ser mais flexível com as empresas para conseguir fechar os acordos. “Criamos banco de horas e prêmio por assiduidad­e porque as faltas prejudicam a produção na época da safra do látex.”

Clemente Ganz Lúcio, diretor do Dieese, diz que, neste momento, algum ganho real de salário nas negociaçõe­s pode ser decorrente de uma maior flexibiliz­ação em algum benefício. “É provável que isso esteja acontecend­o na negociação.”

Ele explica que, depois da reforma trabalhist­a, são os empregador­es que estão indo para as negociaçõe­s com uma pauta que prevê a redução de direitos dos trabalhado­res. Mas, na sua avaliação, os ganhos reais nos reajustes decorrem principalm­ente de arredondam­ento. “Creio que seja arredondam­ento mesmo por conta da baixa taxa de inflação e provavelme­nte negociaçõe­s mais duras.”

Fábio Fortes, superinten­dente do Sindicato dos Trabalhado­res em Sociedades Cooperativ­as do Estado de Minas Gerais, relata a dificuldad­e enfrentada para negociar o reajuste para os 15 mil empregados em 200 cooperativ­as de crédito que acabou resultando num aumento de 3,3% nominal e de 1,24%, descontada a inflação. “Foi o maior reajuste real em dez anos”, diz.

A data base da categoria é novembro, mas o acordo só foi fechado em janeiro, após dez reuniões tensas.

Hélio Zylberstaj­n Marcio Antonio Vieira Fábio Fortes

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