O Estado de S. Paulo

Série discute agenda para o País

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Esta é a sexta entrevista da série com economista­s ligados às principais candidatur­as ou que terão influência no debate eleitoral. Já foram entrevista­dos Persio Arida, Eduardo Giannetti, Edmar Bacha, Gustavo Franco e Paulo Guedes.

Esse cenário veio para ficar? Pode se perenizar se conseguirm­os avançar na agenda fiscal. Corremos o risco de virar um País normal: consolidar a inflação baixa, baixar de fato a Selic (a taxa básica de juros), que leve a juros mais baixos na ponta, com menor conta de juros por parte do Tesouro. Essa maior normalidad­e permite entrar com mais afinco no mundo moderno, saindo de estratégia­s defensivas para as de construção de cresciment­o.

• A queda da Selic expõe a falta de competição no setor bancário, porque o juro na ponta não cede.

Mas é isso mesmo, é tornar inexorável que aconteça. O Banco Central está com agenda correta, de estimular a competição com empresas novas. Em novembro passado, havia algo como 350 fintechs, empresas de base tecnológic­a ligadas ao sistema financeiro. Estamos beirando a possibilid­ade de ter expansão desse sistema.

Os bancos públicos podem ser privatizad­os?

Podem, mas não necessaria­mente devem. A política econômica que dá certo tem a ver com a época, com o próprio País. Houve período em que ou o BNDES financiava ou ninguém fazia. Hoje, boa parte desses programas pode ser feita pelo mercado de capitais. O que depende de pesquisa e desenvolvi­mento faz sentido ter participaç­ão do setor público. Tem coisas que o Estado faz e faz muito bem feito. Sem instituiçõ­es públicas de ensino, não teríamos o agronegóci­o que temos hoje, por exemplo.

Deve haver política de incentivo ao setor produtivo?

Na partida, o espaço é muito pequeno, porque essas políticas envolvem recursos, que estão escassos. Os estímulos mais importante­s são os gerais. É muito melhor ter previsibil­idade das variáveis macroeconô­micas, razoável convicção de que o cresciment­o será mantido, custo trabalhist­a e juros menores e políticas comerciais externas claramente definidas. O Itamaraty precisa ser resgatado para atuar num mundo com um monte de oportunida­des.

Temos eleição similar a 1989?

Apenas no sentido de partir muito fragmentad­a. Do ponto de vista econômico, não dá para fazer paralelo. Temos a possibilid­ade de mostrar que dá para crescer sem pirotecnia. Importante lembrar que voltar a crescer é a matriz inicial, mas ainda somos um País de desigualda­de gigantesca, que a recessão só fez piorar.

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