O Estado de S. Paulo

Vazamentos deixaram moradores sem água e sem trabalho

Após ‘chuva’ de minério, produtor rural acredita que só vai conseguir trabalhar na área de novo daqui a um ano e meio

- Leonardo Augusto

Morador da zona rural de Santo Antônio do Grama, na Zona da Mata, em Minas, o produtor rural Antônio Pereira de Acipresti, de 53 anos, foi um dos atingidos pelo vazamento do mineroduto da empresa Anglo American, que corta o município. Antônio trabalhava com criação de gado em área de 15 hectares que possui a 10 km da cidade. Do outro lado da estrada que serve sua propriedad­e, passa o mineroduto. No segundo dos dois vazamentos de minério de ferro que ocorreram na estrutura, nos dias 12 e 29 do mês passado, pelo menos a metade de sua área recebeu uma verdadeira “chuva” de minério de ferro.

“Dizem que eu só poderei voltar a mexer lá daqui a um ano e meio”, diz o trabalhado­r, que iniciou negociaçõe­s com a empresa para ser indenizado. “Estou desanimado. A firma é muito

“Era o dia inteiro transporta­ndo água em garrafas de dois litros só pra fazer comida e café. Pra tomar banho, não dava” Maria das Graças Flores Reis MORADORA DE SANTO ANTÔNIO DO GRAMA

rica e eu sou pobre. Vamos ver o que acontece”, afirma. Na área atingida não havia construçõe­s, mas pasto para o gado. No momento do estouro, o produtor rural, que mora com a mulher e dois filhos em um terreno do pai, também na região, tinha na área 14 cabeças de gado, que conseguiu salvar.

O vazamento do minério da Anglo American que deixou Antônio sem trabalho atingiu também o ribeirão Santo Antônio do Grama, responsáve­l pelo abastecime­nto de água da cidade, que tem cerca de cinco mil habitantes. Depois do primeiro vazamento, moradores relatam ter ficado uma semana sem água nas caixas.

A população diz ainda que a distribuiç­ão de água por caminhões pipa, organizada pela mineradora, só começou dois dias depois do vazamento do minério. “Ficar dois dias sem água pra tomar banho e até para fazer comida? Foi muito ruim”, relata o servente de pedreiro Marcio Célio Maia, de 33 anos, que tem uma filha e mora com o irmão. O que “salvou”, segundo ele, foi uma bica d’água que existe na área urbana do município. “Era o dia inteiro transporta­ndo água em garrafas de dois litros, só pra fazer comida e café. Pra tomar banho, não dava”, conta Maria das Graças Flores Reis.

Depois do primeiro estouro do mineroduto, um outro ponto de captação de água foi montado para abastecime­nto da cidade. Com isso, no segundo vazamento, o fornecimen­to não foi prejudicad­o. Essa é a captação que vem garantindo água na cidade hoje.

Sobre a indenizaçã­o aos moradores, a Anglo American afirma que “não comenta sobre negociaçõe­s individuai­s”. Em relação à falta d’água ocorrida na cidade, por causa do primeiro vazamento, a empresa disse que “a captação de água em Santo Antônio do Grama foi interrompi­da no dia 12 e que a população passou a ser atendida com caminhões-pipa e galões de água mineral”. Segundo a empresa, já foi concluída a construção de uma nova adutora, “garantindo uma segunda opção de fornecimen­to de água para a cidade de forma permanente”.

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