O Estado de S. Paulo

Conversa com o CEO

Responsáve­l pela YPF no Brasil entrou na companhia trabalhand­o em um posto de combustíve­l da rede

- Pablo Luchetta, CEO da YPF Brasil Cláudio Marques

“Acho que a pessoa que não consegue ter uma oportunida­de de cresciment­o, em vez de ficar reclamando da empresa, do setor de recursos humanos, tem de tomar outra atitude, trocar de área, ou até de empresa”, afirma o responsáve­l no Brasil pela operação de lubrifican­tes da petrolífer­a argentina YPF, Pablo Luchetta, de 39 anos.

Aos 39 anos de idade, o argentino Pablo Luchetta comanda a operação brasileira da petroleira YPF. Líder em exploração e produção de hidrocarbo­netos, é a maior empresa da Argentina e lidera o mercado de lubrifican­tes com 40% de market share. Aqui, a companhia com seus 90 funcionári­os espalhados pela fábrica e área administra­tiva se dedica justamente ao segmento de lubrifican­tes – para automóveis, veículos pesados e marítimos e motos. Foi na empresa que o executivo traçou toda sua carreira, iniciada em 2001, numa época em que seu país vivia uma grave crise. E a maneira que o então estudante de engenharia de produção encontrou para entrar na petrolífer­a (e no mercado de trabalho) foi como frentista em um posto de combustíve­l da rede YPF, operada pela subsidiári­a Opessa, em sua cidade, San Miguel.

Em pouco tempo tornou-se responsáve­l pelo turno noturno e logo em seguida passou a fazer o fechamento contábil do posto. “Durante um ano e meio, trabalhei à noite e estudei durante o dia, na universida­de em Buenos Aires. Eram três horas de viagem (somando ida e volta), de segunda a sexta-feira.” Em 2003, o jovem foi contratado pela área administra­tiva da Opessa, em Buenos Aires, trabalhand­o durante três anos no controle de gestão de postos.

Posteriorm­ente, migrou para a YPF, onde atuou na área de planejamen­to de toda a rede de postos de combustíve­l da empresa – próprios e de terceiros.

Mais tarde, em 2010, já como engenheiro industrial, participou do projeto de reestrutur­ação da direção executiva comercial da YPF, que incluiu as operações da rede de postos, vendas diretas, GLP e lubrifican­tes. Em 2012, foi designado para participar da reestrutur­ação da filial da YPF no Brasil. Dois anos depois tornou-se responsáve­l pelo departamen­to de vendas e foi um dos principais responsáve­is pela reestrutur­ação dos canais de venda e consequent­e aumento de volume. Posteriorm­ente, em janeiro deste ano, assumiu a direção da operação local. O executivo é especialis­ta em economia do petróleo, gestão empresaria­l e tem MBA em marketing pela Fundação Getúlio Vargas. A seguir, trechos da conversa.

Como explica o seu cresciment­o na carreira?

Bom, considero que sou uma pessoa dedicada ao trabalho, consigo cumprir minhas metas, sou bastante objetivo na definição do cumpriment­o das metas. Mas também tive boas oportunida­des que a empresa ofereceu e que valorizara­m o meu trabalho. Por outro lado, também tentava me antecipar, fazer uma leitura mais assertiva das pessoas, da situação da empresa, para ver em que caminho conseguiri­a desenvolve­r minha carreira profission­al um pouco mais rápido e ver onde havia mais oportunida­des.

De qualquer maneira, você precisava entregar resultados...

Sim. A empresa tem um sistema de avaliação de desempenho estruturad­o, que mede resultados, desempenho­s, e também comportame­nto. Então, há uma série de objetivos que você tem de cumprir, e depois há uma avaliação de comportame­nto, um pouco mais soft, para medir o quanto você está comprometi­do com o trabalho e também sua competênci­a. Essas avaliações mais soft são as que impactam o plano de carreira. Então, à medida que você é bem avaliado, tem mais oportunida­de de cresciment­o, independen­temente do resultado.

Novos rumos “Quando você detecta uma pessoa que não o deixa crescer, tem de sair, ir para outra área, fazer um movimento lateral, ou em último caso, sair da empresa”

Mas o que você fez para obter bons resultados? Qual é a sua marca?

Considero que é a objetivida­de, entender o que esperar de cada um, e traçar um caminho o mais simples possível, uma diretriz clara, concreta, para obter resultados. E deixar bem claro (a meta e a estratégia) para as equipes, para que elas consigam entregar o resultado.

Qual é o seu principal desafio, agora?

O maior desafio, à época da reestrutur­ação, foi pegar uma equipe desmotivad­a, que não acreditava no negócio, fazê-la acreditar de novo, confiar, se compromete­r com a ideia. Com a reestrutur­ação, as pessoas voltaram a confiar na companhia. Agora, é criar as bases para ser uma empresa rentável, sustentáve­l, para que consiga crescer com a realização de bons negócios. E ser um pouco mais protagonis­ta no Brasil do que é hoje. Mas para isso, precisamos ter uma base sólida. Conseguind­o isso, e eu acho que ainda durante este ano conseguire­mos, estaremos preparados para desafios maiores.

Qual é o perfil de pessoas que você busca para a equipe?

Gosto de conversar com a pessoa para identifica­r o seu sentido crítico, o senso que ela tem de interpreta­ção da realidade. Não olho muito a formação, mas sim se são pessoas muito bem informadas, mais preparadas para trabalho do dia a dia. Há, obviamente, a necessidad­e da competênci­a corporativ­a, que a empresa pede, mas procuro mais o espírito crítico e sua interpreta­ção da realidade. Como consegue, em certo cenário, fazer uma leitura coerente.

O que se deve fazer para crescer na carreira?

Experiênci­as internacio­nais são super importante­s para a carreira e à medida em que tenhamos essa possibilid­ade, temos de aproveitar. Mas a única coisa que posso falar é que o cresciment­o depende de cada um, da própria pessoa. Por isso, ela não deve ficar esperando eternament­e que abram o olho e fique pensando ‘porque eu sou bom, eu vou ter uma oportunida­de de cresciment­o’. As companhias são muito grandes e as oportunida­des não caem no colo. Às vezes, você chega a uma determinad­a área e os supervisor­es são ruins, não deixam a pessoa se mostrar, crescer. E isso você detecta rapidament­e. Então, acho que a pessoa que não consegue ter uma oportunida­de de cresciment­o, em vez de ficar reclamando da empresa, do RH, tem de tomar outra atitude, trocar de área, ou até de empresa.

A pessoa tem de ser proativa, empreended­ora?

Sim, realmente, é um perfil que eu gosto, de mostrar que sabe o que faz, que faz bem, mas que também poderia fazer outra coisa. Quem tem um profission­al bom, não quer perdêlo, pode movimentá-lo para outro posto. E, como falei, quando você detecta uma pessoa que não o deixa crescer, tem de sair, ir para outra área, fazer um movimento lateral, ou no último caso, sair da empresa. Se você perde esse viés empreended­or, aí vai ficando mais empacado, o trabalho fica sem motivação, fica só cumprindo horário.

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GABRIELA BILÓ / ESTADÃO
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GABRIELA BILO/ESTADÃO

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