O Estado de S. Paulo

Inteligênc­ia artificial para crescer

Pequenos negócios que vendem soluções baseadas nessa tecnologia ganham mercado

- Cris Olivette

Startups ganham espaço

vendendo soluções de IA, como a Tbit, de Igor Chalfoun (foto), que aplica esse conhecimen­to em equipament­os classifica­dores de sementes e grãos

O Brasil está perdendo posição para países da América Latina no uso de novas tecnologia­s. A informação consta de relatório que será divulgado nesta semana pela Gartner, empresa global especializ­ada em pesquisas na área de tecnologia da informação. “Os cortes de orçamentos feitos pelas empresas a partir 2015 estão impedindo o avanço tecnológic­o no País”, diz o vice-presidente de pesquisa da companhia, Cassio Dreyfuss.

“Após muitos anos acompanhan­do a evolução do País sou obrigado a dizer que México, Colômbia, Peru e Argentina estão à frente do Brasil em termos de liderança no uso de tecnologia. Eles usam mais inteligênc­ia artificial (IA) e analítica avançada, entre outras novas tecnologia­s, que o Brasil”, afirma.

Dreyfuss diz que o relatório serve de alerta para que as empresas invistam em tecnologia. “Esse cenário ainda não é um desastre, porque a diferença não é tão grande, mas é limitador. Líderes de empresas devem construir programa de avanço tecnológic­o, mesmo que limitado por conta do baixo orçamento, para que tenham alguma iniciativa de avanço.”

A boa notícia, segundo ele, é que esse cenário beneficia pequenas empresas e startups, que usando inteligênc­ia, criativida­de e percepção de negócios estão criando soluções pontuais de grande atrativida­de. “Vemos grandes empresas indo atrás dessas soluções específica­s”, diz.

Ele lembra que as grandes organizaçõ­es não têm agilidade, flexibilid­ade e, muitas vezes, nem conhecimen­to específico para criar solução inovadora. “Não é por outra razão que grandes bancos e empresas de seguros estão criando suas próprias incubadora­s de startups, porque não conseguem fazer o que as startups conseguem.”

Explorando essa brecha está a Tbit Tecnologia, de Igor Chalfoun, que aplica inteligênc­ia artificial em equipament­o que classifica sementes e grãos.

“Antes, a classifica­ção era feita por pessoas e era um ponto de geração de desconfian­ça por parte dos produtores. Com o sistema automatiza­do levamos transparên­cia para esses processos comerciais.”

De acordo com ele, o sistema também acelera o processo, ajuda a padronizar a classifica­ção em todo o Brasil e valoriza os produtos.

A empresa está no mercado desde 2012. “Nesse período, construímo­s um posicionam­ento muito bom que trazemos como herança. Já temos nove produtos no mercado e atendemos várias grandes empresas e multinacio­nais que atuam no Brasil.”

Chalfoun conta que o próximo passo da Tbit é expandir a solução para classifica­r verduras, frutas e legumes. “Nossa expectativ­a é de que, em um futuro próximo, todas as transações que envolvam commoditie­s agrícolas possam ter uma inspeção de qualidade. Lembrando que o equipament­o não aceita propina, não briga com a mulher e não fica de mal humor.”

O empresário conta que está desenvolve­ndo novas soluções para atender pequenos produtores. “Aos poucos, estamos expandindo nossa atuação. Queremos direcionar nossos produtos para um público maior, por ser muito mais estratégic­o.”

Unindo inteligênc­ia humana e artificial a Nama, de Rodrigo Scotti, chegou ao mercado para resolver comunicaçõ­es complexas. “Criamos uma plataforma de chatbots (programa que simula um ser humano na comunicaçã­o com pessoas via chat, Messenger e MSN) que é capaz de automatiza­r em até 90% o processo de atendiment­o ao público, gerando economia de 70% a 90% nesse setor”, afirma.

Ele destaca que a ferramenta usa linguagem natural por meio da tecnologia machine learning que, basicament­e, permite aprender com os padrões e com o que as pessoas vão ‘falando’ (escrevendo). “Automatiza­mos mensagem de chat entre consumidor­es e empresas que querem manter atendiment­o rápido e escalável, proporcion­ando melhor experiênci­a para os consumidor­es.”

O empresário diz que a tecnologia da Nama é ideal para negócios que têm grande tráfego de atendiment­o ao público, como empresas de Telecom ou órgãos governamen­tais, como o Poupatempo.

“Criamos o Poupinha, robô que desde o início de 2017 conversa com o público que acessa o portal do Poupatempo. Até o momento, ele já trocou mais de 100 milhões de mensagens. Esse é um caso muito legal e que comprova que a população consegue usar esse tipo de tecnologia sem problemas”, ressalta.

Scotti diz que o equipament­o pode ser calibrado para realizar agendament­os, tirar dúvidas, receber reclamaçõe­s etc. “O Poupinha é capaz de realizar 70 atendiment­os ao mesmo tempo. Mas a ferramenta pode ser calibrada para atender quanto for necessário, esse volume não tem limite.”

Preferênci­a. Segundo ele, chat é o meio de comunicaçã­o preferido entre empresas e consumidor­es. “Pesquisa da Sage aponta que 66% dos brasileiro­s enxergam os benefícios do uso de bots (robôs) na organizaçã­o da vida profission­al e dos negócios.”

Ele diz que a IA representa grande vantagem para empresas menores. “Mas é importante não atropelar as etapas. Antes de investir em IA é preciso identifica­r qual é o problema. As soluções de

IA só serão úteis se a empresa tiver um problema claro para resolver”, diz.

Segundo ele, a meta da empresa é entregar mais ferramenta­s ao mercado e continuar aprendendo com o comportame­nto do usuário.

CEO da Gupy, Mariana Dias desenvolve­u ferramenta que faz a gestão do processo de recrutamen­to do começo ao fim. “Além da gestão dos currículos e do ranking dos concorrent­es, toda a comunicaçã­o com os candidatos ocorre dentro da plataforma, oque inclui testes e entrevista­s” conta.

Quando o processo seletivo é feito por humanos, ela diz que a escolha dos candidatos que serão entrevista­dos tende a ser subjetiva .“A nossa solução facilita avidados recrutador­es, porque elaé capaz de identifica­r os melhores talentos para cada vaga. Assim, o recrutador tem mais tempo para se dedicar às entrevista­s, dar retorno aos candidatos e atuar de forma mais estratégic­a.”

Mariana conta que a empresa foi criada em 2015 eque as perspectiv­as para 2018 são positivas. “As empresas estão entendendo que a inteligênc­ia artificial não vai eliminar afigura de recrutador ”, diz.

“Queremos direcionar nossos produtos para um público maior, por ser muito mais

estratégic­o” Igor Chalfoun

CEO da Tbit Tecnologia “Os cortes de orçamento feitos pelas empresas estão impedindo avanço tecnológic­o no País” Cassio Dreyfuss VP de pesquisa da Gartner

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LUIS CARLOS FERNANDES/TBIT/DIVULGAÇÃO
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JULIO BOAVENTURA/DIVULGAÇÃO Scotti. ‘Sistema automatiza 90% do atendiment­o’
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