O Estado de S. Paulo

‘A política dos colorados é de aproximaçã­o com o Brasil'

- ASSUNÇÃO

A eleição do conservado­r Mario Abdo Benítez, que toma posse em agosto, deve dar continuida­de à atual política paraguaia com relação ao Brasil e aos brasileiro­s que vivem no país vizinho. “Tradiciona­lmente, a política dos colorados é de aproximaçã­o com o Brasil”, explica o analista político Alfredo Boccia Paz.

Segundo ele, o que poderia ameaçar a relação do governo paraguaio com os brasileiro­s agricultor­es que vivem no país seria a possibilid­ade de uma reforma agrária, o que está de fora do programa do presidente eleito. A seguir trechos da entrevista concedida ao Estado.

O programa de governo de Benítez é nacionalis­ta? Sim, conservado­r, certamente. Nacionalis­ta é um termo muito amplo, mas com certeza será um governo de continuida­de econômica. Não vejo possibilid­ade de mudança. O macroeconô­mico vai continuar funcionand­o bem e o social vai continuar igual.

A política externa seguirá a mesma linha da atual? Provavelme­nte. Benítez estará obrigado a negociar com um Senado mais heterogêne­o, mas tem mais habilidade e facilidade de conversar e convencer do que (Horacio) Cartes, que termina o governo com uma resistênci­a interna

muito grande. Benítez terá de negociar o tempo todo com o Parlamento, mas nada que já não conheçamos aqui.

Como deve ficar a relação com o Brasil na questão de Itaipu? Os colorados nunca negociaram nada importante em Itaipu. A agressivid­ade com o Itamaraty no tema Itaipu sempre foi bem menor.

Qual deve ser a política de Benítez para os brasiguaio­s? Não vejo motivo para conflito. Tradiciona­lmente, a política dos colorados é de aproximaçã­o com o Brasil. Historicam­ente, os liberais são mais próximos da Argentina e os colorados, do Brasil. O problema para os brasiguaio­s e produtores brasileiro­s seria a redistribu­ição das terras, mas uma reforma agrária não está cogitada no programa de Benítez.

Qual será a posição sobre a questão da Venezuela?

Deve ter uma atitude mais enérgica. O Paraguai encabeçou a saída dos cinco países da Unasul, mas o peso diplomátic­o do país é tão pequeno que não deve ser levado tanto em conta qualquer decisão sobre a Venezuela.

É possível haver uma nova instabilid­ade que derrube o presidente?

Não. Muito difícil de acontecer. Estamos no paraíso da estabilida­de. Os movimentos sociais são muito lentos aqui e Benítez é menos agressivo, é um homem de partido.

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