O Estado de S. Paulo

Trump e Macron defendem revisão de acordo com Irã.

Em encontro na Casa Branca, presidente americano ameaça governo iraniano e diz que país ‘pagará preço’ alto se reativar programa nuclear

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Em uma ameaça pouco velada de ataque militar, o presidente Donald Trump disse ontem que o Irã pagará um “preço que poucos países jamais pagaram” se ameaçar os EUA e terá “grandes problemas” caso retome seu programa nuclear. Ao mesmo tempo, ele classifico­u de “insano” e “ridículo” o acordo de 2015 que tenta evitar justamente isso.

Convencer Trump a permanecer no acordo fechado entre EUA, Irã, Alemanha e os outros quatro integrante­s do Conselho de Segurança da ONU era um dos principais objetivos do francês Emmanuel Macron em sua visita de Estado a Washington, a primeira do tipo recepciona­da pelo atual ocupante da Casa Branca. Macron defendeu a manutenção do pacto e a negociação de compromiss­os adicionais, que tratem da atuação de Teerã no Oriente Médio e de seu desenvolvi­mento de mísseis balísticos.

Depois de encontros nos quais o Irã foi o principal tema, Trump manteve suspense sobre a posição que adotará no dia 12 de maio, quando terá de decidir se os EUA permanecer­ão no acordo. “Há uma chance – e ninguém sabe o que eu vou fazer no dia 12, ainda que o sr. presidente (Macron) tenha uma boa ideia”, declarou o americano em entrevista coletiva ao lado do francês. “Esse acordo tem fundações podres.” Ainda assim, Trump observou que na vida e na liderança de países é preciso ser “flexível” e se mostrou aberto a um novo pacto.

Reação. Enquanto os dois se reuniam na Casa Branca, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamed Javad Zarif, dizia em entrevista à Associated Press que o pacto não sobreviver­á sem os EUA. “Se deixarem o acordo nuclear, a consequênc­ia imediata mais provável é que o Irã responda da mesma maneira e também saia”, disse. “Não haveria vantagem para o Irã permanecer.”

Na esperança de salvar o pacto, Macron propôs sua manutenção e a negociação de compromiss­os adicionais, que abordem as preocupaçõ­es dos EUA. “Por alguns meses, eu tenho dito que esse não é um acordo suficiente, mas ele nos permitiu, pelo menos até 2025, ter algum controle sobre as atividades nucleares deles”, sustentou.

No entanto a probabilid­ade de o Irã aceitar as propostas do francês é nula, avaliou Daniel Serwer, especialis­ta em Oriente Médio da Escola de Estudos Internacio­nais Avançados na Universida­de Johns Hopkins. Serwer acredita que as chances de Trump permanecer no acordo são mais altas do que suas declaraçõe­s fazem supor. “Não faz nenhum sentido para os EUA abandoná-lo.”

Nader Hashemi, diretor do Centro para Estudos do Oriente Médio da Universida­de de Denver, é menos otimista. Segundo ele, a influência de Macron sobre Trump é grande, mas não supera à de lobbies que têm pressionad­o o presidente a deixar o pacto: sua base republican­a, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e os países árabes. “Eles querem que Trump deixe o acordo e confronte o Irã.”

A posição foi reforçada pela chegada de John Bolton à chefia do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca e pela nomeação de Mike Pompeo para o comando do Departamen­to de Estado. Ambos são críticos do pacto. Na avaliação de Hashemi, o fim do acordo é um “cenário de pesadelo”, que fortalecer­á as facções mais conservado­ras do regime iraniano e “incendiará” o Oriente Médio.

Na entrevista coletiva ao lado de Macron, Trump também atacou seus aliados árabes “imensament­e ricos” e afirmou que muitos não sobreviver­iam se não fossem os EUA e, “em menor medida”, a França. “Eles não durariam uma semana. Nós os estamos protegendo.”

Macron parece ter sido bemsucedid­o em seu esforço para convencer Trump a manter tropas americanas na Síria por mais tempo que o planejado, ao colocar o futuro do país no âmbito de uma negociação mais ampla com o Irã. “Eu quero voltar para casa. Mas eu quero voltar para casa tendo concluído o que temos de concluir. Então, nós estamos negociando a Síria como parte de um acordo completo”, observou o americano.

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CHRIS KLEPONIS/EFE Amigos. Brigitte (E), Melania, Macron e Trump acenam na sacada da Casa Branca

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