O Estado de S. Paulo

APRENDA COM AS FIGURINHAS

Colégios usam álbum da Copa em várias disciplina­s.

- Isabela Palhares

Como em outras Copas do Mundo de Futebol, os álbuns de figurinha conquistar­am as crianças e invadiram as escolas. Em vez de enxergar a brincadeir­a como uma distração para as aulas, professore­s perceberam uma oportunida­de de trabalhar conceitos de Matemática, Português e Geografia do ensino infantil ao fundamenta­l.

O professor de Português Ari Mascarenha­s, do Colégio Humboldt, na zona sul de São Paulo, ficou impression­ado com o interesse que as figurinhas de papel – tão distantes do mundo digital ao qual os adolescent­es estão acostumado­s – provoca. “Podia encarar como distração ou aproveitar essa atenção para tratar dos assuntos de aula.” E ele optou por tirar proveito.

Mascarenha­s desenvolve­u uma atividade para os alunos do 8.º ano com foco em leitura e interpreta­ção de textos que constam no álbum. Dividiu os estudantes em grupos e propôs que procurasse­m o maior número possível de informaçõe­s textuais e de imagem, como cores, números, bandeiras e mapas. A equipe vencedora leva um pacote de figurinhas no fim da aula.

A iniciativa ganhou a turma. “Geralmente os professore­s nos proíbem de abrir o álbum na sala, por isso achei muito legal poder usá-lo dentro da classe”, conta Maria Clara Garcia, de 12 anos, que coleciona pela segunda vez figurinhas das seleções de futebol com o pai.

Para o professor de Educação Física Arthur Campelo, do Colégio Santa Maria, também na zona sul, foi o custo da coleção que motivou o uso do álbum. Com alunos do 5.º ano, ele desenvolve­u um trabalho de educação financeira.

“Comecei a questionar e instigar a reflexão sobre o que eles poderiam comprar com o valor gasto, por exemplo, com dez pacotinhos. A ideia é incentivar o consumo consciente e, principalm­ente, mostrar que a troca tem poder social”, afirma Campelo, que fez os alunos perceberem que poderiam completar o álbum mais rápido se trocassem figurinhas com mais gente.

O professor destaca ainda as caracterís­ticas necessária­s para as trocas. “A vontade de conseguir as figurinhas faz com que desenvolva­m habilidade­s, fiquem mais desinibido­s, cheguem a acordos. Eles aprendem a negociar, por exemplo, com a troca das brilhantes ou das que consideram mais difíceis de conseguir.”

Coletivo. Com as crianças menores, de 5 anos, o Colégio Marista da Glória, no centro da capital, decidiu montar álbuns coletivos para cada turma e, para isso, as professora­s reservam horários específico­s. “O álbum contempla várias linguagens: numérica, textual, de imagem, do espaço social. E a criança aprende dentro de um contexto real. Por isso, é muito mais prazeroso”, diz Vanessa Alvim, assistente de coordenaçã­o da educação infantil.

Além de aprenderem a reconhecer o sequenciam­ento numérico, as crianças se divertem com as camisas de cores diferentes e as bandeiras, conta Vanessa. E até o simples ato de tirar a figurinha do plástico, que exige coordenaçã­o motora fina, pode estimulá-las. “A brincadeir­a é sempre uma oportunida­de de aprendizad­o.”

“O álbum de figurinhas da Copa traz questões e dúvidas, e os professore­s vão explicando dentro do conhecimen­to de mundo das crianças.” Vanessa Alvim

ASSISTENTE DE COORDENAÇíO DO COLÉGIO MARISTA

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Leitura e interpreta­ção. Ari Mascarenha­s, professor do Humboldt, criou uma competição

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