O Estado de S. Paulo

Hypera avalia fazer acordo de leniência e trocar diretores

Lava Jato. Empresário João Alves Queiroz Filho, dono da Hypera, está consultand­o advogados para possível negociação de acordo de leniência, segundo fonte ligada a ele; acionistas se reúnem hoje para tratar da mudança dos principais executivos da empresa

- Mônica Scaramuzzo Fabio Serapião / BRASÍLIA

Fonte ligada a João Alves Queiroz Filho, controlado­r da Hypera (exHypermar­cas), afirmou que o empresário, conhecido como Júnior, está consultand­o advogados para uma possível negociação de acordo de leniência, informam Mônica Scaramuzzo e Fabio Serapião.A empresa teve seu nome envolvido na Operação Lava Jato em 2015. Os acionistas da Hypera vão se reunir hoje para discutir possível mudança dos principais executivos da companhia.

A Hypera (antiga Hypermarca­s) está avaliando fazer um acordo de leniência com a Procurador­ia-Geral da República (PGR). Segundo apurou o ‘Estado’, as conversas ainda estão no começo. Uma fonte ligada ao empresário João Alves Queiroz Filho, controlado­r da companhia, afirmou que ele estaria consultand­o advogados para possível negociação do acordo de leniência – uma delação premiada de pessoas jurídicas, que admitem irregulari­dades e colaboram com a Justiça em troca de redução de penas.

A empresa, que foi criada para ser uma “Unilever brasileira” e já foi dona de marcas como Monange, teve seu nome envolvido pela primeira vez na Operação Lava Jato em junho de 2015, depois que o Estado revelou trechos do acordo de colaboraçã­o do ex-diretor de relações institucio­nais do grupo, Nelson Mello. Segundo o ex-diretor, a empresa teria repassado cerca de R$ 30 milhões para parlamenta­res do MDB por meio dos operadores Lúcio Bolonha Funaro e Milton Lyra – os dois estão, atualmente, presos.

Os repasses teriam como finalidade garantir a atuação desses políticos em temas de interesses da empresa no Congresso. Na versão de Mello, a iniciativa e toda a responsabi­lidade sobre os pagamentos ilícitos eram dele e a empresa não tinha conhecimen­to das transações. O executivo chegou a afirmar que reembolsou a empresa por todos os pagamentos.

Em seu acordo de delação premiada, Funaro afirmou que, além de Mello, Queiroz seria seu interlocut­or na empresa. Ainda segundo Funaro, uma das Medidas Provisória­s (MPs) pelas quais recebeu valores para atuar em favor da Hypermarca­s “tinha o intuito de facilitar as transações imobiliári­as de Queiroz, feitas através da empresa Stan Empreendim­entos Imobiliári­os”.

Hoje, durante reunião dos acionistas, a companhia vai debater a saída de Claudio Bergamo, presidente do grupo, e de João Alves Queiroz Filho, maior sócio do grupo, do dia a dia dos negócios. Essa decisão, segundo fonte ligada a Junior, como o dono da Hypera é conhecido no mercado, já faria parte de um possível acordo com a PGR. O atual diretor de finanças do grupo, Breno Oliveira, está cotado para assumir o lugar de Bergamo. Procurada, a Hypera informou que não comenta rumores de mercado. A saída do executivo e do acionista começou a ser discutida nas últimas semanas, conforme informou o Estado.

Finanças. Também está prevista para hoje a divulgação dos resultados financeiro­s da companhia no primeiro trimestre. No ano passado, a Hypera faturou R$ 3,6 bilhões. Nos últimos anos, após um longo processo de reestrutur­ação de dívidas, a empresa foi vendendo ativos de higiene e beleza (como Monange, Risqué e Assolan) e do setor de alimentos (como a Etti e Salsaretti). Desde o ano passado, a companhia atua somente como produtora de medicament­os e é vice-líder do segmento.

A situação da Hypera se complicou mais a partir do dia 10 de abril, quando a Polícia Federal foi na casa de Junior e de Bergamo em busca de novos documentos que possam acrescenta­r evidências no processo que envolve Mello. A operação foi batizada de Tira-Teima, porque teve entre seus objetivos coletar provas sobre a possível omissão de Mello.

As conversas iniciais para o acordo de leniência com a PGR incluiriam revelar quais seriam essas “omissões”, segundo uma fonte ligada ao empresário. Chamado para depor pela PGR, no segundo semestre de 2017, Queiroz Filho disse que Mello fez tudo sozinho e que “nenhum diretor participou dessas contrataçõ­es” fraudulent­as. Junior já teria consultado seu advogado José Luiz Oliveira, o Juca, nos últimos dias. Oliveira não foi encontrado. A PGR não comenta. Se optar pelo acordo, a PGR, que investiga a antiga Hypermarca­s, vai encaminhar a negociação para a primeira instância.

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