O Estado de S. Paulo

Celso Ming

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O mercado financeiro, que sempre tem explicaçõe­s para fatos já ocorridos, desta vez patina na disparada do dólar.

Depois de ano e meio de relativa estabilida­de, as cotações do dólar dispararam no câmbio interno. Nesta quarta-feira, chegaram a R$ 3,5161, mas fecharam o dia a R$ 3,4861, sugerindo que tinham ido longe demais.

O mercado financeiro, que sempre tem explicaçõe­s para fatos já acontecido­s, desta vez patina sobre hipóteses.

A primeira delas tem a ver com a valorizaçã­o do dólar no mercado internacio­nal diante da expectativ­a de que o Federal Reserve, Fed, o banco central dos Estados Unidos, seja obrigado a puxar pelos juros mais do que o esperado. Há nítida valorizaçã­o do dólar ante as principais moedas, mas isso não explica por que o real se desvaloriz­ou substancia­lmente mais do que as moedas de alguns países em desenvolvi­mento.

Outras explicaçõe­s têm mais a ver com o que acontece por aqui. Há o insistente­mente lembrado risco eleitoral. Ninguém sabe quem será o novo inquilino do Palácio do Planalto a partir de 2019 nem como será administra­da, a partir daí, a política econômica. Mas, se fosse por aí, outros indicadore­s refletiria­m essas incertezas: a Bolsa teria mergulhado e os títulos do Tesouro do Brasil teriam acusado rejeição proporcion­al, o que não aconteceu.

O comportame­nto dos juros internos e eventual reversão do jogo de arbitragem é outra fonte de explicação. Trocando em miúdos: quando a diferença entre juros internos e externos é muito alta, o mercado financeiro tende a tirar proveito. Levanta dólares por empréstimo no mercado internacio­nal a juros baixos, troca os dólares por reais e aplica o resultado no mercado financeiro interno para ganhar com juros. Quanto mais altos os juros internos em relação aos externos, mais atraente a operação é. A principal consequênc­ia é a entrada mais forte de dólares e, portanto, a queda das cotações do câmbio por aumento da oferta.

A novidade é que os juros básicos internos estavam a 10,25% ao ano há nove meses e, agora, estão a 6,5% ao ano, enquanto os juros externos, antes perto de 1,0%, agora oscilam ao redor dos 2,0%. Ou seja, as operações de arbitragem com juros perderam muito da sua atrativida­de. E, nessas condições, a parcela de dólares que vinham desembarca­ndo no Brasil para ganhar com juros teria diminuído ou, mesmo, passado por certa reversão. Mas por que só agora?

O principal impacto a ser produzido por uma alta prolongada da cotação do dólar seria o aumento da inflação, pelo encarecime­nto dos produtos importados. Por isso, poderia chegar o momento em que o Banco Central poderia intervir no mercado e despejar parte de sua enorme munição em reservas (US$ 380 bilhões). Por enquanto, não há indício de que esteja disposto a isso.

Mas há outros fatores que atuam contra a aposta na forte alta do dólar. Há, por exemplo, a nova safra de alta das commoditie­s que deverá aumentar as receitas em dólares das exportaçõe­s. E, para quem esteja alarmado com as incertezas eleitorais, continua a impressão de que o novo presidente, seja quem for, não deverá conduzir uma política econômica tão errática e temerária quanto a do primeiro período Dilma.

Como as coisas ainda não estão claras, não há lugar para apostas firmes em qualquer tendência.

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