Irã rejeita mudança em pacto nuclear
Crise à vista. Presidente iraniano, Hassan Rouhani, afirma que Paris e Washington não têm direito de mudar o tratado, assinado em 2015, e faz duras críticas a seu colega americano, que tem até o dia 12 para decidir se retira os EUA do acordo
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, rejeitou a possibilidade de renegociar o acordo nuclear firmado com os EUA e outros seis países em 2015, e criticou duramente o presidente americano, Donald Trump, por seus contínuos ataques ao pacto.
Falando ontem na cidade de Tabriz, no noroeste do Irã, Rouhani dirigiu-se diretamente a Trump: “Você não tem nenhum conhecimento em política, nenhum conhecimento em leis, nenhum conhecimento sobre tratados internacionais”. “Como pode um comerciante, um mercador, um empreiteiro da construção civil, um construtor de torres, fazer julgamentos sobre assuntos de política internacional?”
Os comentários são uma resposta à visita de dois dias do presidente francês, Emmanuel Macron, a Washington. Ontem, no seu último dia da visita oficial aos EUA, o francês discursou no Congresso americano e criticou a política externa de Trump, a guerra comercial e as decisões ambientais de seu anfitrião. Macron foi recebido calorosamente com uma ovação de três minutos, e recebeu diversos aplausos enquanto discursava em inglês quase perfeito.
O francês pediu a Trump que não se esquive do papel de liderança que os EUA desempenharam no acordo nuclear com o Irã. “Nós assinamos”, disse Macron sobre o acordo, levantando um dedo para dar ênfase. “Por iniciativa dos EUA, nós assinamos. Não podemos dizer que devemos nos livrar disso assim. Não devemos abandonar o acordo assim, sem ter algo mais substancial”, acrescentou.
Macron falou sobre os “laços inquebrantáveis” entre os EUA e a França e seus valores comuns de tolerância, liberdade e direitos humanos. Ele também atacou o nacionalismo e argumentou que cabe aos EUA preservarem a ordem internacional que ajudaram a criar. “Temos de moldar nossas respostas comuns às ameaças globais que estamos enfrentando”, disse Macron, pedindo um novo “multilateralismo forte”.
Na terça-feira, ao receber Macron na Casa Branca, Trump qualificou o acordo nuclear com o Irã como “terrível, louco e ridículo”. A visita de Macron foi uma tentativa de salvar o acordo e, ao mesmo tempo, satisfazer os apelos de Trump por ações mais duras contra o Irã.
Macron propôs que os Estados Unidos e a Europa bloqueiem qualquer atividade nuclear iraniana até 2025. Também pretende abordar o programa de mísseis balísticos do Irã e criar condições para “uma solução política” para conter o Irã no Iêmen, Síria, Iraque e Líbano.
Preocupação. Pelo acordo, Trump tem de assinar até 12 de maio a renovação da suspensão das sanções ao Irã. A revisão é feita a cada três meses. Trump pressionou os parceiros europeus signatários do pacto a encontrarem uma forma de endurecer o acordo com Teerã, e ameaçou não renovar a autorização. Além dos Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha assinaram o acordo. Todos manifestaram preocupação com as ameaças americanas. A chanceler alemã, Angela Merkel, deve conversar pessoalmente com Trump até o fim da semana.
A Rússia questionou se seria possível repetir o trabalho anterior para fechar um novo acordo nuclear com o Irã. “Sabemos que o acordo nuclear foi o trabalho meticuloso de vários países. É possível repetir esse trabalho?”, perguntou Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin. “Não sabemos do que se trata quando falam em mudança de acordo, apoiamos o acordo nuclear como é hoje. Achamos que não há alternativas”, disse.
Especialistas também manifestaram preocupação com os contínuos ataques de Trump ao acordo nuclear. “Se os Estados Unidos continuam dizendo, mesmo que para fins políticos internos, que não vão reconhecer esse acordo, que tem se mostrado altamente funcional, eles incitam um processo que fará com que o pacto entre em colapso com o tempo”, afirmou ao site americano Vox Suzanne Maloney, vice-diretora do programa de política externa da Brookings Institution. “Acho que é isso que Trump quer: uma implosão do acordo.” /