Nicarágua estuda diálogo nacional para encerrar crise
Estudantes marcharam ontem com velas acesas em Manágua para lembrar os 34 mortos na onda de protestos
Centenas de nicaraguenses marcharam ontem com velas acesas pelas ruas de Manágua para pedir justiça pelas 34 mortes nos recentes protestos pedindo a saída do presidente Daniel Ortega do poder, enquanto o governo estuda convocar um diálogo nacional para encerrar a crise.
Os manifestantes, em sua maioria estudantes, saíram da Universidade Centro-americana (UCA), local onde os primeiros confrontos começaram, para a Rotunda Cristo Rei, chamada assim por ter uma imagem de Jesus de braços abertos, semelhante ao Cristo Redentor.
No caminho, a romaria podia ser distinguida a distância pelas velas acesas, as bandeiras da Nicarágua sendo agitadas e motoristas que soavam incessantemente as buzinas de suas motos e carros. No final do trajeto, as fotos dos mortos nos confrontos foram colocadas aos pés da imagem do Cristo.
O governo da Nicarágua avaliava ontem a realização de um diálogo nacional para buscar saídas para a turbulência desatada pelos confrontos e para a onda de protestos contra uma reforma da previdência promovida pelo governo – que acabou revogando a medida –, mas nenhuma data foi fixada.
A proposta de diálogo nacional para superar a crise parece avançar com a decisão dos bispos católicos de mediar o processo, o que foi saudado pelo presidente Ortega e pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.
O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos atualizou ontem para 34 o número de mortos, a maioria em Manágua, alertando que ele poderia aumentar. O organismo fez o balanço acrescentando alguns desaparecidos que foram encontrados por parentes no necrotério do Instituto Médico-Legal e pessoas que morreram no hospital em razão dos ferimentos sofridos durante as manifestações. O Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu à Nicarágua que investigue as mortes.
Entre os mortos estão dois policiais e um jornalista da cidade de Bluefields. Jovens estudantes universitários são a grande maioria das vítimas. Há 66 feridos internados, sendo que 12 em estado muito grave. A maioria dos mortos foi baleada na cabeça, pescoço ou tórax.
O governo anunciou ontem a reabertura das escolas, fechadas desde a quinta-feira passada em razão dos bloqueios nas ruas e dos confrontos. No entanto, alguns nicaraguenses ainda temem a retomada da tensão. “Vamos ver quanto tempo dura esta calma. Não vou mandar minha filha para a escola, pois ainda não acho a situação estável”, disse Alan Saavedra, um taxista de Manágua.
Na terça-feira, as autoridades libertaram dezenas de jovens presos nos protestos. Os jovens denunciaram ontem as surras sofridas pelas mãos de supostos oficiais de polícia e do sistema penitenciário, antes de serem libertados quase nus. O governo também retirou o bloqueio à transmissão de uma última emissora censurada, abrindo caminho para o diálogo.