O Estado de S. Paulo

Juiz manda soltar 137; polícia do Rio diz que milícia já cresce mais que facções

Segurança. Ação atende a pedido do Ministério Público do Estado, que não viu razão para denúncia; 159 pessoas haviam sido detidas e 4 mortas em baile no dia 7. Delegado defende operações e afirma que grupos de milicianos faturam R$ 25 milhões por mês

- Fábio Grellet / RIO / COLABOROU ROBERTA JANSEN

A Justiça do Rio determinou a libertação de 137 dos 159 homens presos em 7 de abril, durante uma festa na zona oeste que teria sido organizada por milicianos. Mais cedo, o comando da polícia veio a público para defender as operações contra a milícia – ontem, houve nova investida contra a conhecida Liga da Justiça –, destacando que o grupo já cresce mais que as facções criminosas no Estado.

“Estamos, sim, no caminho certo do combate às milícias, que são a organizaçã­o criminosa que mais cresce hoje no Rio”, disse o chefe da Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa. “As milícias exploram todo tipo de crime: homicídio, roubo, latrocínio e também o tráfico. Dados iniciais mostram que faturam R$ 25 milhões por mês, uma magnitude nefasta de poder.”

As declaraçõe­s foram dadas antes de o juiz Eduardo Marques Hablitsche­k, da 2.ª Vara Criminal de Santa Cruz (zona oeste), revogar as prisões do dia 7. Ele atendeu a pedido do Ministério Público do Estado.

Até 23 horas, todos os presos continuava­m no Complexo Penitenciá­rio de Gericinó, em Bangu. Ainda não havia informaçõe­s sobre o procedimen­to de soltura. As prisões ocorreram no Sítio Três Irmãos, em Santa Cruz. Qualquer pessoa que comprasse ingresso podia entrar e assistir aos shows das bandas Pique Novo, Swing & Simpatia e Samba de Amor.

A Polícia Civil recebeu a informação de que se tratava de uma confratern­ização de milicianos. Cerca de 40 policiais civis seguiram para o sítio, onde foram recebidos a tiros na portaria. Houve três tiroteios, com quatro mortos. Um dos chefes milicianos que escaparam foi Wellington Braga, o Ecko.

Foram presos 159 homens e apreendido­s 13 fuzis, 15 pistolas, 4 revólveres, 1 granada, 1 réplica de fuzil, munição, carregador­es, algemas, uniformes falsos da polícia e 11 carros roubados. Todos os presos foram acusados de constituir milícia privada, crime com pena de prisão de 4 a 8 anos, e de ter a posse ou porte de arma de fogo de uso restrito, conduta punida com prisão de 3 a 6 anos.

Familiares da maioria dos presos passaram a reclamar que muitos não têm nenhuma ligação com milícias e foram à festa para um momento de lazer, para o qual compraram convites. A Defensoria Pública do Estado afirmou que a Polícia Civil não comprovou as condutas criminosas individuai­s de cada preso. Alegou também que ninguém pode ser preso apenas por estar em um lugar onde havia milicianos e armas ilegais.

Ontem, ao analisar o pedido, o juiz atendeu ao pedido do MP e determinou a soltura dos 137 que ainda estavam presos. “O Judiciário não pode deixar preso aquele que não será acusado na denúncia do Ministério Público, seja por convicção íntima do magistrado, seja por mero capricho funcional.”

Defesa. Rivaldo Barbosa defendeu a ação policial. “Naquele momento (das prisões), tínhamos uma festa de confratern­ização da milícia, existia indício para flagrante”, afirmou ontem, antes da decisão judicial. “O trabalho da polícia naquele momento foi respaldado pelo Ministério Público, que admitiu que ‘os fatos justificam o auto de prisão em flagrante’. Se porventura a Justiça entender que deve soltar (os presos), assim será. E isso não vai impedir a gente de continuar a investigaç­ão.”

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MARCELO REGUA / AGÊNCIA O GLOBO - 24/4/2018 Na porta de Bangu. Familiares passaram a relatar que presos não têm ligação com milícias e foram apenas a um show, para o qual compraram convites

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