O Estado de S. Paulo

Lorena lidera ranking; polícia pede reforço

Cidade, no Vale do Paraíba, tem alta taxa de homicídios e problemas na estrutura policial. Psicóloga oferece apoio

- ENVIADO ESPECIAL LORENA (SP) / M.A.C.

Ernani Braga é delegado de polícia há 15 anos em Lorena, cidade a 200 quilômetro­s de São Paulo, na direção do Rio. “Aqui, há mais arma do que deveria. Há mais do droga do que deveria haver para uma cidade desse tamanho. E o aumento da violência não nos transforma em uma prioridade dentro da polícia. Olha só o meu prédio. Não dá para fazer milagre.”

Da sala dele, no primeiro andar de um prédio visivelmen­te sem a manutenção devida, ele sai para mostrar rachaduras nas salas vizinhas, a porta quebrada e as janelas estilhaçad­as no térreo e o mato alto do lado de fora. Na equipe, ressente-se de escrivães, que poderiam acelerar o trabalho cartorial, facilitand­o as investigaç­ões. “A equipe se desmotiva com isso tudo”, diz.

A queda na motivação é notada na taxa de esclarecim­ento de homicídios. Diz Braga que, em 2016, 90% dos 30 homicídios da cidade foram esclarecid­os. Em 2017, foram só 50% dos 28 assassinat­os. “Tem de haver a repressão contra esses casos. Quando não há, o tráfico fica mais à vontade. Precisamos de prioridade para melhorias”, diz. Braga considera que a maioria dos assassinat­os se dá pela disputa entre diferentes quadrilhas que vendem droga na cidade, na disputa por território.

Braga ainda não era o delegado da cidade quando em 1991 quatro homens entraram em uma residência ampla no centro de Lorena e mataram Cristiano, de 18 anos, e Graziela, de 15. A intenção era furtar o que vissem pela frente, mas o resultado acabou sendo muito mais trágico. Os detalhes ainda estão vivos na lembrança da psicóloga Alda Patrícia Fernandes Nunes Rangel, de 69 anos, mãe das duas vítimas.

Luto. Os detalhes estão vivos, mas não são mais tão dolorosos para ela, que estudou no seu doutorado o que chama de luto parental, a dor de pais que perdem filhos. “O caminho natural é que os filhos enterrem seus pais”, diz no seu consultóri­o, uma sala conjugada que dá acesso à residência, a mesma onde chegou naquela noite do seu aniversári­o e se deparou com os corpos dos filhos.

No grupo, que Alda diz ser “terapêutic­o como consequênc­ia”, as mães contam as histórias dos filhos e recebem apoio de colegas. A notícia do trabalho já se espalhou pelas cidades vizinhas. “As memórias dos entes têm de ser preservada­s, mas o luto deve ser feito com o lema de superação. Contar e recontar a história ajuda a criar uma narrativa e lidar melhor com a situação, mesmo que às vezes não haja uma explicação lógica para o que aconteceu”, diz.

A Secretaria Estadual da Segurança Pública disse que as ações realizadas por ambas as polícias “possibilit­aram que os indicadore­s criminais seguissem a tendência de queda de todo Estado”. “Em 2017, os homicídios dolosos caíram 6,66%, e cerca de 50% dos casos foram esclarecid­os.”

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FELIPE RAU/ESTADÃO Assistênci­a. Alda perdeu os dois filhos e criou grupo

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