O Estado de S. Paulo

Temer altera lei que pune servidores

Presidente vetou trechos do projeto criticados pelo TCU e Ministério Público Federal; AGU fez parecer apoiando a sanção com vetos

- Carla Araújo Breno Pires / BRASÍLIA / COLABOROU LU AIKO OTTA

O presidente Michel Temer sancionou ontem, com 11 vetos, o Projeto de Lei nº 7.448, que altera regras para a punição de agentes públicos e a fiscalizaç­ão de contratos.

De autoria do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), o projeto buscou dar mais segurança jurídica ao estabelece­r diretrizes sobre como devem ser interpreta­das as leis que tratam desses temas, evitando possíveis abusos. A proposta, porém, foi bombardead­a pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU) como sendo um estímulo à impunidade.

Os vetos amenizaram o texto e, com isso, conseguira­m acalmar os integrante­s da corte de contas, que temiam ter seu trabalho tolhido pela nova lei.

Há, por exemplo, um artigo dizendo que o agente público responderá pessoalmen­te por decisões e opiniões técnicas que contenham “dolo ou erro grosseiro”. O parágrafo primeiro detalhava o que não se enquadrava nessa categoria: decisões baseadas em jurisprudê­ncia ou doutrina, orientação geral ou interpreta­ção razoável. Esse dispositiv­o foi vetado, com outros dois parágrafos no mesmo artigo.

“A retirada dos parágrafos reduz muito os riscos que o caput oferecia, pois, sem a definição de erro grosseiro do parágrafo primeiro, cada órgão julgador (TCU e Judiciário) poderá dizer o que entende por erro grosseiro. Dessa forma, embora não seja o ideal, conseguire­mos resolver”, disse o consultor jurídico do TCU, Odilon Cavallari, que elaborou nota técnica em que o tribunal pediu veto integral ao PL.

Autor de artigo em que pedia veto ao projeto, o procurador do Ministério Público junto ao TCU Júlio Marcelo Oliveira afirmou que houve “sensibilid­ade do Presidente para ouvir as instituiçõ­es e entidades que apontavam falhas graves no projeto”.

Fontes do governo negam que o texto tenha sido desfigurad­o. A assessoria de Anastasia informou que ele só se pronunciar­á sobre o saldo final da proposta após fazer uma análise.

Os vetos, por outro lado, desagradar­am aos que viam na lei uma possibilid­ade de evitar exageros. “Aplaudimos o governo pela sanção, mas lamentamos que órgãos de controle continuem extrapolan­do sua competênci­a”, disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins.

Temer vetou um artigo que criava um tipo de ação judicial que, segundo TCU e MPF, impediria a revisão de contratos, atos ou normas mesmo se, posteriorm­ente, fossem verificada­s irregulari­dades neles.

Também foi excluído trecho de artigo que, mediante celebração de compromiss­o, livraria de responsabi­lização o gestor que praticasse ato ilícito administra­tivo se não tivesse cometido crime ou enriquecid­o ilicitamen­te.

Antes de tomar a decisão, Temer conversou com ministros do TCU e com Anastasia e solicitou estudos do Ministério da Justiça e da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre o tema. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, tanto o ministro Torquato Jardim quanto a ministra Grace Mendonça, da AGU, fizeram pareceres apoiando a sanção com vetos.

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