O Estado de S. Paulo

Rombo das contas públicas em março é o maior em 21 anos

Governo Central registrou déficit de R$ 24,8 bilhões no mês; resultado foi afetado por pagamento de precatório­s

- Idiana Tomazelli Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

As contas públicas registrara­m um rombo de R$ 24,8 bilhões em março, o maior para o mês desde o início da série histórica, em 1997. O resultado foi afetado pelo pagamento antecipado de R$ 9,5 bilhões em precatório­s, valores devidos pela União após sentença definitiva na Justiça. Em anos anteriores, o desembolso ocorria no segundo semestre, daí o grande impacto nas contas de março de 2018.

Mesmo descontand­o esse fator atípico, o grande motivo por trás do déficit continua sendo a elevação dos gastos previdenci­ários. O Tesouro e o Banco Central fizeram uma economia de R$ 36 bilhões no primeiro trimestre do ano, mas nem isso foi suficiente para cobrir o buraco crescente nas contas do INSS, que chegou a R$ 49 bilhões só nos três primeiros meses de 2018.

A divulgação dos dados, ontem, marcou a primeira entrevista coletiva do recém-empossado secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Embora o governo tenha engavetado a reforma da Previdênci­a no início do ano, ele buscou imprimir em sua primeira fala pública no cargo o discurso de que a aprovação de mudanças nas regras de pensão e aposentado­ria no País será inevitável para a sustentabi­lidade fiscal do Brasil. “Não haverá plano B, plano C, plano D, ou plano E sem a reforma. Existem muitas propostas de reforma que podem ser discutidas, e é isso que se espera de um bom debate político. Mas não há ajuste sem a reforma.”

O cenário dramático traçado por Almeida mostra que o teto de gastos pode se tornar inviável já a partir de 2020, porque o forte cresciment­o das despesas previdenci­árias sufocará os demais gastos, necessário­s para manter a máquina pública funcionand­o. As chamadas despesas discricion­árias, onde estão incluídos os investimen­tos, já estão hoje em patamar semelhante ao de 2009, com tendência de piora. “Em 2019, as despesas obrigatóri­as avançarão R$ 74 bilhões, contra um espaço no teto de R$ 40 bilhões. Haverá novo corte de despesas discricion­árias.”

O governo tenta aprovar medidas de redução de gastos para melhorar o quadro para o ano que vem. Uma delas é a reversão do benefício de desoneraçã­o da folha de pagamento de empresas, que pode liberar R$ 16 bilhões para outras despesas em 2019. Outras ainda serão enviadas ao Congresso, como o pedido de adiamento do reajuste dos servidores de 2019 para 2020 e a reestrutur­ação das carreiras do funcionali­smo. O esvaziamen­to do Congresso às vésperas da campanha eleitoral, porém, têm dificultad­o qualquer tentativa de articulaçã­o do governo para garantir apoio.

“O ritmo de votação do Congresso depende do Congresso. Seria melhor para governo se as medidas fossem analisadas o mais rápido possível. É claro que em ano eleitoral é tudo mais difícil, tem campanha, congressis­tas precisam viajar. O que está acontecend­o é o tradiciona­l debate, eventualme­nte pode ter atraso em alguma medida”, reconheceu o secretário.

Apesar da constataçã­o desfavoráv­el, Almeida alertou que o déficit acumulado em 12 meses até março, de R$ 119,5 bilhões, não indica a existência de “folga” em relação à meta fiscal, que permite rombo de até R$ 159 bilhões. “O resultado primário em 12 meses é afetado por receitas extraordin­árias no fim de 2017, como alguns leilões e parcelamen­tos de dívidas. Não é o caso agora. Não há expectativ­a de volume alto de receita extraordin­ária no fim de 2018.”

Uma fonte de receitas extraordin­árias poderia ser o megaleilão de petróleo excedente que se encontra em áreas de cessão onerosa hoje exploradas pela Petrobrás, cuja arrecadaçã­o é projetada entre R$ 80 bilhões e R$ 100 bilhões. Mas a licitação corre o risco de ser adiada por causa de uma disputa entre o governo e a estatal.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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