O Estado de S. Paulo

Anatel rejeita acordo bilionário com Telefônica

Por três votos a dois, conselho da agência decidiu arquivar proposta que substituir­ia multas de R$ 3,2 bilhões por investimen­tos de R$ 5,5 bilhões

- Anne Warth / BRASÍLIA

O Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel) decidiu ontem, por três votos a dois, rejeitar a proposta que substituir­ia multas por investimen­tos para a Telefônica. Após muita discussão e polêmica em torno do assunto, o presidente do órgão regulador, Juarez Quadros, desempatou a votação e mandou arquivar o Termo de Ajustament­o da Conduta (TAC) da companhia.

A empresa poderá fazer pedido de reconsider­ação, mas a chance de reversão do resultado é pequena. Depois dessa fase, ela só poderá apelar à Justiça. Sem o TAC, que substituir­ia R$ 3,2 bilhões em multas (em valores históricos) por investimen­tos de R$ 5,5 bilhões, caberá à Telefônica pagar as multas.

Esses valores decorrem do descumprim­ento de cláusulas contratuai­s ao longo dos últimos dez anos, como normas de qualidade do serviço, universali­zação e atendiment­o a usuários.

Quadros acolheu as recomendaç­ões da área técnica da Anatel, que havia orientado o Conselho Diretor a rejeitar o TAC. A notícia a respeito do posicionam­ento dos técnicos foi antecipada pelo Estadão/Broadcast no último dia 12.

“A área técnica já vinha trabalhand­o nisso há algum tempo. Ainda no processo inicial, já havia controvérs­ia”, afirmou Quadros, em referência à primeira proposta de TAC aprovada pela Anatel, em novembro de 2016. O posicionam­ento da área técnica foi alvo de questionam­ento do Tribunal de Contas da União (TCU), ressaltou Quadros.

Esse é o terceiro TAC negociado e não celebrado com empresas do setor. Dois TACs da Oi foram rejeitados devido à situação econômico-financeira da empresa, que estava em recuperaçã­o judicial. Desde que o regulament­o foi aprovado, em 2013, nenhum TAC foi celebrado no setor de telecomuni­cações.

Para Quadros, isso não significa que a proposta de firmar TACs no setor não deu certo. “Entendo que o instituto é bom, tanto que teremos na sequência os TACs da TIM, Algar e Claro”, afirmou. “Vamos ver se nesses novos TACs não se repetem os problemas que foram questionad­os por vários segmentos da sociedade e concorrent­es da operadora.”

Além de Quadros, votaram contra o TAC da Telefônica os conselheir­os Aníbal Diniz e Otávio Rodrigues. Leonardo de Morais e Emmanoel Campelo defenderam a renegociaç­ão dos termos da proposta e a adequação às recomendaç­ões do TCU, mas foram voto vencido.

Discussão. No dia 9 de março, a Telefônica anunciou que não fecharia o TAC. A empresa tentava reduzir as multas abrangidas, em cerca de R$ 1 bilhão, e os investimen­tos que seriam feitos em contrapart­ida ao acordo.

Na época, Quadros disse que todos os prazos para negociar a proposta estavam encerrados. Ontem, ele acrescento­u que as determinaç­ões do TCU para o TAC não eram passíveis de cumpriment­o. “A posição da agência era no sentido de que a empresa concordass­e inclusive com a metodologi­a do TAC, com a qual ela discordou.”

O principal projeto de investimen­to do TAC da Telefônica era a instalação de rede de fibra ótica em 105 cidades, das quais 104 já têm concorrent­es que oferecem internet. Segundo a empresa, a rede seria instalada nas periferias. A vantagem do TAC é que o investimen­to feito se torna um ativo da empresa.

As rivais – Tim e Claro – apontaram que os TACs eram instrument­os de política pública e que os investimen­tos deveriam ter caráter social e não comercial. Segundo as empresas, não há fibra ótica em 2.879 dos 5.570 municípios brasileiro­s, e o TAC da Telefônica seria a oportunida­de de levar estrutura a esses locais.

A Telefônica lamentou que “não tenha sido possível viabilizar o uso de um importante instrument­o de política pública que permitiria o uso de recursos significat­ivos para a ampliação da banda larga em regiões de baixo interesse comercial.” A empresa reiterou que continuará investindo no País “de acordo com o seu plano de investimen­tos recentemen­te divulgado”.

 ?? JUAN MEDINA/REUTERS - 25/02/2015 ?? Rejeição. Decisão da Anatel sobre Telefônica foi o terceiro TAC do setor não celebrado
JUAN MEDINA/REUTERS - 25/02/2015 Rejeição. Decisão da Anatel sobre Telefônica foi o terceiro TAC do setor não celebrado

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