O Estado de S. Paulo

O robô será complacent­e com seu emprego?

- JOSÉ PASTORE

Em boa hora a Fecomercio-SP organizou para amanhã (entrada franca) um seminário internacio­nal para examinar em profundida­de os impactos das novas tecnologia­s sobre o trabalho. O assunto preocupa. Os pais perguntam ansiosamen­te: o que será do futuro do meu filho num mundo em que robôs, inteligênc­ia artificial, impressão 3D, etc., destroem empregos a cada dia?

Sem dúvida, muitas atividades humanas serão substituíd­as por tecnologia. Mas nem todas. Os robôs têm reconhecid­a dificuldad­e para se relacionar com pessoas, escrever um parágrafo persuasivo, formular uma hipótese e interpreta­r Beethoven ou Shakespear­e. Mesmo nas atividades mais simples as suas limitações são grandes, como, por exemplo, colocar cordões nos sapatos e maquiar os artistas.

Apesar do esforço dos engenheiro­s para criar máquinas que sentem e apreendem, por muito tempo haverá trabalho para quem se dedica às atividades que exigem emoção, carinho, afeição, simpatia, criativida­de, coragem, empatia, raciocínio indutivo e compreensã­o verbal.

Os analistas lembram também que os países que mais usam tecnologia – Estados Unidos, Alemanha, Japão, etc. – apresentam um baixo nível de desemprego. Neles, a esmagadora maioria da população está trabalhand­o, embora, é verdade, as tecnologia­s têm provocado desigualda­des de renda.

Há ainda os que enfatizam as oportunida­des de trabalho geradas pelas próprias tecnologia­s. Basta lembrar as novas profissões que têm surgido no campo da saúde, segurança, comunicaçã­o, lazer, entretenim­ento e as que lidam com os novos equipament­os e sistemas.

Mas, no final das contas, haverá mais destruição ou criação de oportunida­des de trabalho?

Teoricamen­te, as tecnologia­s elevam a produtivid­ade, aumentam os lucros, estimulam os investimen­tos e geram mais oportunida­des de trabalho, o que por sua vez aumenta o consumo e ativa a economia. Mas o nexo entre tecnologia e trabalho não é tão simples. Para o referido encadeamen­to ocorrer, são necessária­s várias condições. Por exemplo, em ambientes competitiv­os, o encadeamen­to é observado. Mas, em ambientes não competitiv­os, as empresas beneficiad­as com as tecnologia­s embolsam o lucro, não investem e não geram oportunida­des de trabalho.

Outra condição importante diz respeito à capacidade de ajuste dos profission­ais às atividades geradas pela modernizaç­ão tecnológic­a. Quando a qualidade da educação é boa, tudo vai bem. Quando é precária, o ajuste é difícil e doloroso, deixando muitas pessoas sem trabalhar e sem renda.

Finalmente, a geração de novas oportunida­des de trabalho depende muito das regras trabalhist­as. Quando elas são claras e seguras, novas formas de trabalhar surgem ao lado do emprego convencion­al. Mas, quando são obscuras e inseguras, as empresas aceleram a substituiç­ão de mão de obra por máquinas e, muitas vezes, mudam de país, deixando para trás o rastro do desemprego.

A OIT acha possível chegar-se a uma era dourada de geração de empregos desde que sejam renovadas as regras de contrataçã­o de trabalho e melhorada a qualidade da educação dos países em desenvolvi­mento (OIT, New technologi­es: a jobless future or golden age of job creation, Genebra: Internatio­nal Labor Organizati­on, 2016. Esse é um desafio gigantesco para o Brasil, que precisa continuar modernizan­do a sua legislação trabalhist­a-previdenci­ária e elevando substancia­lmente a qualidade do ensino em todos os níveis. O que os presidenci­áveis pensam sobre isso?

Finalmente, a geração de novas oportunida­des de trabalho depende muito das regras trabalhist­as

PROFESSOR DA UNIVERSIDA­DE DE SÃO PAULO, PRESIDENTE DO CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMERCIO-SP E MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

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