O Estado de S. Paulo

Entre ondas de frio e calor, SPFW celebra escapismo

Com coleções de inverno e verão embaralhad­as no calendário, moda praia propõe passarela de sonhos

- Maria Rita Alonso Sergio Amaral

O penúltimo dia da São Paulo Fashion Week materializ­ou nas passarelas uma velha conhecida dos paulistano­s: a instabilid­ade climática e a sensação de que num mesmo dia vivemos diferentes estações. Nesta temporada, estão sendo apresentad­as coleções de inverno, que já estão nas lojas (o tal do see-nowbuy-now, ou, veja-agora-compre-agora), assim como prévias do verão 2019 (que chegam às vitrines apenas no segundo semestre). A dualidade ficou mais evidente ontem, com dois desfiles de moda praia na agenda.

Lenny Niemeyer fez o primeiro deles, sobre um tema batido, mas interpreta­do de maneira inventiva, listando riquezas naturais do Brasil. “Queria uma coleção com um olhar de mulheres desbravado­ras”, explica a estilista. Ela mostrou maiôs, biquínis, túnicas e vestidos com propostas utilitária­s, como maxibolsos, brincou com misturas de estampas tropicais (folhagens, florais das chitas, asas de borboletas e grafismos marajoaras) e investiu num trabalho de tramas de seda com aspecto de palha, que se desconstru­íam em franjas. “É preciso um tempo para gerar desejo”, diz Lenny. “Acho que ninguém sai correndo de um desfile para ir para a loja”, completa. “Esse see-now-buy-now veio só para bagunçar nossa vida”, diz Nelson Alvarenga, o presidente do conselho do grupo InBrands, sócio da SPFW e dono de marcas, como Ellus, Richards e Salinas.

Acompanhan­do o termômetro da natureza, a manhã abriu com a coleção de inverno da A.Niemeyer, que levou o povo da moda e clientes aos domínios da Escola Britânica de Artes Criativas (Ebac), na Vila Madalena. O mood era de uma praia fria, com surfistas destemidos pegando ondas em um mar quase congelado. As estilistas Renata Alhadeff e Fernanda Niemeyer, que levantam a bandeira do slow fashion, imaginaram roupas para momentos relaxantes, usando elementos do universo do surfe como referência. Conclusão: ótimos jeans, túnicas e peças de lã que davam um ar cozy a tudo e uma cartela suave com toques de azul.

De volta ao verão 2019, a Salinas acionou o botão do escapismo, sonhando com dias ensolarado­s, à beira de uma piscina chique, onde se pode tomar um refresco ao som de baladinhas francesas vintage. Os maiôs (agora onipresent­es) têm um colorido de laranja, verde, rosa e azul, em estampas que mimetizam o quadricula­do dos azulejos e brincam com as formas do guarda-sol.

Transporta­r a gente para lugares mais calmos e agradáveis, alienando às vezes e confortand­o também, é função das passarelas desde sempre. O escapismo no Brasil, realmente, é algo que não sai de moda.

Spoiler. O último desfile do dia, o da Apartament­o 03, trouxe um desfecho inusitado. A equipe da novela O Outro Lado do Paraíso aproveitou para gravar as cenas em que a personagem de Gloria Pires, Beth, realiza seu sonho de se tornar uma estilista. A coleção de Luiz Claudio foi uma das mais belas do dia. Boa escolha.

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ANDRE PENNER/AP Aqualouca. Performers no desfile da Salinas evocam os anos dourados do Rio de Janeiro

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