O Estado de S. Paulo

Investimen­to público atinge o menor nível em 5 décadas

Os R$ 76,9 bilhões aplicados pelos governos em 2017 não cobriram sequer a depreciaçã­o dos ativos públicos

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

União, Estados e municípios investiram o equivalent­e a 1,17% do Produto Interno Bruto (PIB) – o menor nível em quase 50 anos. A situação é tão grave que, em 2017, o dinheiro aplicado pelos três níveis de governo não foi suficiente sequer para garantir a conservaçã­o de equipament­os públicos, como estradas e prédios, informa Adriana Fernandes. Dados fiscais recém-divulgados pelo Tesouro mostram que os R$ 76,9 bilhões aplicados pelo setor público no ano passado não cobriram a depreciaçã­o (perda de valor) dos ativos públicos, provocando um “desinvesti­mento” de R$ 36,5 bilhões. O fenômeno já aparece nas contas de 2016, mas se agravou em 2017. A série histórica dos investimen­tos elaborada pelos economista­s Rodrigo Orair e Sergio Gobetti, do Ipea, indica que, antes de 2017, os anos de menor investimen­to público foram 1999 e 2003 (cerca de 1,5% do PIB).

O investimen­to público no Brasil chegou ao fundo do poço em 2017, quando União, Estados e municípios investiram o equivalent­e a 1,17% do Produto Interno Bruto (PIB) – o menor nível em quase 50 anos. A situação é tão grave que, no ano passado, o dinheiro aplicado pelos três níveis de governo não foi suficiente sequer para garantir a conservaçã­o de estradas, prédios e equipament­os que pertencem ao poder público.

Dados fiscais recém-divulgados pelo Tesouro mostram que os R$ 76,9 bilhões aplicados pelo setor público no ano passado não cobriram a depreciaçã­o (perda de valor) dos ativos públicos, provocando um “desinvesti­mento” de R$ 36,5 bilhões. Isso significa que além de a infraestru­tura pública estar prejudicad­a pela falta de novos investimen­tos, os gastos não são suficiente­s sequer para manter o que já existe. O chamado “investimen­to líquido negativo” já aparece nas contas do Tesouro em 2016, mas se agrava em 2017.

A série histórica dos investimen­tos feita pelos economista­s Rodrigo Orair e Sergio Gobetti, do Ipea, indica que, antes de 2017, os episódios de menor investimen­to público foram registrado­s em 1999 e 2003, quando atingiram cerca de 1,5% do PIB, mas logo voltaram a crescer. Agora, entretanto, há um processo contínuo e gradual de redução depois do pico de 2,8% do PIB em 2010. Em 1970, quando começa a série histórica, o investimen­to público chegou a 4,42%, marcando o começo da década que ficou conhecida como “milagre econômico”, caracteriz­ada pela interferên­cia excessiva do Estado na economia durante o regime militar.

Orair, especialis­ta em contas públicas, atualmente diretor da Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI) do Senado Federal, usa como exemplo de desinvesti­mento uma casa que se deteriora por absoluta falta de manutenção. Neste caso, lembra o especialis­ta, uma pequena reforma não resolverá o problema porque o material novo utilizado não será suficiente para compensar a depreciaçã­o natural.

Em relatório do ano passado, a IFI já havia alertado que os investimen­tos em 2017 seriam os mais baixos em 20 anos. “Esses números do Tesouro só confirmara­m o que tínhamos apontado no ano passado”, disse o economista.

Ciclos políticos. Orair destaca que os investimen­tos são muito influencia­dos pelos ciclos políticos: em anos de eleição, o setor público investe mais do que nos outros períodos. Por isso, segundo ele, os investimen­tos em 2018 devem ser maiores do que os do ano passado. Mas o especialis­ta ressalta que esse quadro não muda a tendência de declínio dos investimen­tos públicos.

A queda é agravada pelo processo de consolidaç­ão fiscal. O padrão brasileiro de ajuste, na União e nos governos regionais, tem sido o de penalizar os investimen­tos, que ocupam a rubrica de “despesas discricion­árias”, aquelas que podem ser cortadas para o cumpriment­o das metas fiscais. “Dada a continuida­de do ajuste, a tendência é de queda também nos próximos anos”, disse Orair.

Ele chama a atenção para o fato de que boa parte dos investimen­tos dos Estados e Municípios é feita por meio de convênios com o governo federal, que repassa recursos para os empreendim­entos regionais. Dessa forma a restrição fiscal da União, acaba também afetando as demais esferas de governo.

Entre 2011 e 2014, os Estados viveram uma fase de abundância de crédito. Depois, essa torneira se fechou, restringin­do o espaço para investimen­tos.

A queda dos investimen­tos públicos vai na contramão do que prometeu o presidente Michel Temer. A estratégia apresentad­a, no início do atual governo, incluía também o aumento dos investimen­tos públicos e parcerias com a iniciativa privada. A restrição orçamentár­ia e o aumento dos gastos e perda de receitas por conta de concessões feitas pelo Congresso limitaram o espaço de ação da equipe econômica que teve de passar a tesoura nos investimen­tos. Nos Estados e municípios, o quadro foi semelhante, com o agravante das restrições para obterem crédito nos bancos.

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