O Estado de S. Paulo

MG abre impeachmen­t contra Pimentel

Governador do PT é acusado de atrasar repasses orçamentár­ios em meio à crise política com MDB; comissão vai analisar pedido

- Leonardo Augusto ESPECIAL PARA O ESTADO BELO HORIZONTE

O presidente da Assembleia Legislativ­a de Minas Gerais, deputado Adalclever Lopes (MDB), autorizou ontem a abertura de um processo de impeachmen­t do governador Fernando Pimentel (PT). O pedido foi apresentad­o no último dia 9 pelo advogado Mariel Marley, usando como justificat­iva o atraso nos repasses dos chamados duodécimos orçamentár­ios – recursos que são enviados mensalment­e pelo Executivo para o Legislativ­o, Judiciário, Defensoria e Ministério Público.

A leitura do pedido de impeachmen­t em plenário foi feita pela primeiro-vice-presidente da Casa, deputado Lafayette Andrada (PRB). Agora, uma comissão será indicada por líderes dos partidos para analisar o pedido e emitir um parecer, que pode ser favorável ou contrário ao impeachmen­t. O passo seguinte é a votação desse parecer. “A comissão será formada e será analisado se houve ou não irregulari­dade”, disse Andrada. A expectativ­a do vice-presidente é de que a comissão esteja funcionand­o em 15 dias.

Em nota, o governo mineiro afirmou ter visto com “estranheza” a aceitação do pedido de impeachmen­t, que qualificou de “inconsiste­nte e sem sustentaçã­o jurídica”. Ressaltou ainda que o momento atual não é adequado para “colocar em risco a estabilida­de” do Estado.

“Dadas as graves crises financeira e político-institucio­nal por que passa o País e a proximidad­e das eleições, não é momento para aventuras políticas que coloquem em risco a estabilida­de conquistad­a em Minas Gerais”, diz o texto.

O líder do governo na Assembleia, Durval Ângelo (PT), afirmou que o pedido de impeachmen­t foi uma “surpresa”. O parlamenta­r afirmou ainda que não acredita que o impediment­o de Pimentel seja aprovado na Casa. “Entendemos que os requisitos legais não estão presentes nesse pedido”, disse.

Segundo o deputado, é preciso lembrar que os repasses são feitos sobre o que é “real”, e não sobre o que é “orçado”. O parlamenta­r afirmou também que os repasses estão em dia e será um “bom momento” para o governo “explicar que, a despeito da crise do Estado, os outros Poderes não têm do que reclamar”.

Um pedido anterior apresentad­o em maio do ano passado pelo mesmo advogado havia sido arquivado pelo presidente da Assembleia – ou seja, nem sequer chegou a ser lido em plenário. O motivo alegado pelo proponente na época foi uso indevido de depósitos judiciais.

Atrito. Segundo o próprio líder de Pimentel na Assembleia, no entanto, hoje as relações entre Adalclever e “secretaria­s do governo” já não seriam “tão boas”. “Não dá para tapar o sol com a peneira”, disse ele. “Mas os dirigentes dos Poderes têm que se entender e, para isso, vamos tentar reconstrui­r as pontes”, afirmou.

Pimentel pretende se candidatar à reeleição ao governo do Estado. Mas o PT e a ala do MDB de Minas ligada ao presidente da Assembleia Legislativ­a têm entrado em atrito desde o início das negociaçõe­s para a formação da chapa para a disputa pelo Executivo estadual e para o Senado.

O ruído aumentou com a possibilid­ade de a presidente cassada Dilma Rousseff (PT), que transferiu seu título eleitoral para o Estado, ser lançada para uma das duas vagas ao Senado nas eleições de outubro.

A provável candidatur­a de Dilma teria ampliando o desgaste entre Adalclever e Pimentel. Isso porque a presidente cassada ficaria com uma das vagas da chapa, minando as pretensões do MDB, que pretende pleitear as duas vagas. Uma delas, inclusive, já teria Adalclever como pré-candidato.

Dilma ainda não confirmou a intenção de se candidatar, embora admita a possibilid­ade. “Existe agora essa tendência de que eu concorra a senadora pelo Estado de Minas. (Mas) o fato de eu transferir meu título não significa que já me tornei candidata, são dois momentos distintos. Este momento (de me tornar candidata) será em agosto.”

Oposição. O líder do bloco de oposição na Assembleia Legislativ­o do Estado, Gustavo Correia (DEM), afirmou que a leitura do pedido não teve motivação política. “Vamos mostrar aos mineiros o que está errado no governo Pimentel”, afirmou.

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CRISTIANE MATTOS/FUTURA PRESS - 10/6/2016 Impediment­o. O governador Fernando Pimentel, que será investigad­o pela Assembleia

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