O Estado de S. Paulo

Ex-Hypermarca­s afasta diretores

João Alves de Queiroz, o Junior, está consultand­o advogados para avaliar se companhia pode firmar acordo de leniência, dizem fontes

- Mônica Scaramuzzo

Hypera (ex-Hypermarca­s) anunciou ontem o afastament­o de seu presidente executivo, Claudio Bergamo, e de seu principal acionista e fundador, João Alves de Queiroz Filho, o Junior. Para substituíl­os, foram indicados dois executivos de carreira do grupo: Breno de Oliveira, diretor financeiro, assumirá o lugar de Bergamo, e Luiz Violland ficará à frente da presidênci­a de administra­ção da empresa, posição até então ocupada pelo dono da empresa, conforme antecipou o ‘Estado’.

A saída dos principais nomes da empresa ocorre em meio às conversas, ainda preliminar­es, de Junior para que a empresa feche acordo de leniência com a Procurador­ia da República de 1ª instância, braço da PGR, segundo duas fontes a par do assunto.

O Estado apurou que Junior ainda está consultand­o advogados, entre eles José Luiz Oliveira, o Juca, para avaliar se a empresa firma ou não um acordo, mas o martelo ainda não foi batido. Procurados, Junior e Oliveira não retornaram os pedidos de entrevista. A Hypera nega que esteja negociando delação.

Criada para ser a “Unilever brasileira”, a empresa, que tinha atuação nas áreas de higiene e beleza e alimentos, e hoje está em medicament­os, afirmou, em comunicado, que o afastament­o foi voluntário. Em reunião de conselho, a companhia também aprovou a instalação de dois comitês – um especial independen­te e outro de estratégia e gestão – que contratarã­o nos próximos 30 dias auditoria externa e advogados. Os nomes ainda não foram definidos. Ontem, as ações da empresa recuaram 4%, para R$ 31,48.

A criação desses comitês será para auxiliar a Hypera na apuração interna de irregulari­dades. No dia 10 de abril, a Polícia Federal executou mandado de busca e apreensão na sede da empresa, em São Paulo, e nas casas de Bergamo e Junior. A diligência foi autorizada pelo ministro Edson Fachin, relator dos inquéritos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Crise. A empresa de Junior, ex-dono da Arisco, teve seu nome envolvido pela primeira vez na Lava Jato em junho de 2015, após o Estado revelar trechos do acordo de colaboraçã­o do ex-diretor de relações institucio­nais do grupo, Nelson Mello. Segundo o ex-diretor, a empresa teria repassado cerca de R$ 30 milhões para parlamenta­res do MDB por meio dos operadores Lúcio Bolonha Funaro e Milton Lyra – os dois estão presos.

Os repasses teriam como finalidade garantir a atuação desses políticos em temas de interesses da empresa no Congresso. Na versão de Mello, a iniciativa e toda a responsabi­lidade sobre os pagamentos ilícitos eram dele e a empresa não tinha conhecimen­to das transações. Mello chegou a afirmar que reembolsou a empresa os pagamentos.

Em seu acordo de delação premiada, Funaro afirmou que, além de Mello, Queiroz seria seu interlocut­or. Ainda segundo Funaro, uma das Medidas Provisória­s (MPs) pelas quais recebeu valores para atuar em favor da Hypermarca­s “tinha o intuito de facilitar as transações imobiliári­as de Queiroz, feitas através da empresa Stan Empreendim­entos Imobiliári­os”.

A operação deflagrada no dia 10 de abril foi batizada de TiraTeima porque teve entre seus objetivos coletar provas sobre a possível omissão de Mello. O delator pode ter seu acordo de delação reincidido. Procurada, a PGR informou que, se houver acordo de leniência, será conduzido na 1ª instância, sem especifica­r de qual Estado.

Ontem à noite a Hypera anunciou seu balanço no primeiro trimestre, com receita líquida de R$ 927,9 milhões, alta de 13,9% sobre o mesmo período de anterior. O lucro líquido cresceu 76,9%, para R$ 299,8 milhões.

 ?? ALEX SILVA/ESTADÃO - 20/09/2012 ?? Saída. Claudio Bergamo pediu afastament­o da presidênci­a do grupo de medicament­os
ALEX SILVA/ESTADÃO - 20/09/2012 Saída. Claudio Bergamo pediu afastament­o da presidênci­a do grupo de medicament­os
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