O Estado de S. Paulo

Antonio Palocci fecha delação com a PF

Alvo da Lava Jato, ex-ministro de Lula e Dilma está preso desde setembro de 2016; acordo ainda precisa ser homologado pela Justiça

- Fausto Macedo Fabio Serapião / BRASÍLIA

O ex-ministro Antônio Palocci fechou acordo de delação premiada com a Polícia Federal em Curitiba no qual deve fornecer detalhes de esquemas de corrupção durante os governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2015). A colaboraçã­o deve fortalecer as acusações contra Lula, condenado e preso na Lava Jato, e abrir frentes de investigaç­ão ligadas aos setores financeiro e automobilí­stico, além do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES).

Para ter validade, o acordo ainda precisa ser homologado pela Justiça. A informação foi revelada ontem pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estado.

Homem de confiança dos dois governos petistas, Palocci buscou a PF após sua negociação com o Ministério Público Federal não avançar. PF e MPF travam uma disputa no Supremo Tribunal Federal sobre quem pode assinar acordos (mais informaçõe­s nesta página).

O petista, que ocupou o Ministério da Fazenda do governo Lula e a Casa Civil na gestão Dilma, vai falar aos delegados da Lava Jato da Superinten­dência da PF de Curitiba, onde está preso desde setembro de 2016. Palocci foi detido após o delegado Filipe Hille Pace mapear movimentaç­ões da “planilha Italiano” no Setor de Operações Estruturad­as – o “departamen­to de propina” – da Odebrecht.

Como o acordo é mantido em sigilo, ainda não se sabe a abrangênci­a do conteúdo da delação de Palocci. Mas, desde que surgiram as primeiras informaçõe­s sobre sua intenção de colaborar com a Justiça, a expectativ­a é de que ele detalhe sua atuação como ministro da Fazenda de Lula, coordenado­r da primeira campanha de Dilma e consultor na empresa Projeto Consultori­a.

Relatório da Receita Federal anexado à Operação Omertà – fase da Lava Jato que prendeu o ex-ministro – apontou que a Projeto recebeu R$ 81,3 milhões de 47 empresas, entre 2006 e 2015. Os valores recebidos são de pelo menos três bancos, uma holding ligada ao setor farmacêuti­co, uma empresa de planos de saúde, uma montadora de veículos e uma do setor de alimentos. Para os investigad­ores, o acordo pode levar a novas frentes de apuração, sobretudo em relação ao setor financeiro.

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, na ação penal sobre a compra de um terreno para o Instituto Lula pela Odebrecht, Palocci incriminou o ex-presidente ao relatar a existência de um “pacto de sangue” no qual a Odebrecht se compromete­u a pagar R$ 300 milhões em propinas ao PT. A defesa de Lula diz que o ex-ministro “muda depoimento em busca de delação”.

‘Italiano’. O Estado apurou que os primeiros depoimento­s prestados à PF por Palocci são relativos à investigaç­ão instaurada em Curitiba que apura sua relação com a Odebrecht. A Moro, no ano passado, o ex-ministro confirmou ser o “italiano” citado em planilhas do setor de propina da empresa.

O empresário Marcelo Odebrecht afirmou que a empresa repassou R$ 300 milhões a Palocci com a rubrica “italiano”. Segundo Odebrecht, o ex-ministro também era o administra­dor dos repasses para o codinome “Amigo”, atribuído a Lula.

O acordo de Palocci também poderá impulsiona­r investigaç­ões sobre possíveis irregulari­dades na liberação de empréstimo­s do BNDES. O ex-ministro foi alvo da Operação Bullish, deflagrada em maio de 2017. Uma das suspeitas é de que ele atuou, por meio de sua consultori­a, para ajudar a JBS a se tornar a maior empresa de proteína animal do mundo – com apoio financeiro do BNDESPar.Na época da operação, a JBS e o BNDES negaram irregulari­dades.

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